Imagem ilustrativa.| Foto: Priscilla Du Preez/Unsplash
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Há não muito tempo, a importância da imprensa para a democracia era um fato tão notório que pouco era necessário debatê-lo, ao menos em condições normais. Pouco a pouco, no entanto, iniciou-se um processo de transformação e de crítica, geral ou direcionada, que gradativamente modificou essa realidade, não apenas no Brasil, mas em diversas partes do mundo.

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A computação e a internet criaram linguagens e plataformas que passaram muito tempo despercebidas dos meios tradicionais de imprensa – TV, rádio e jornal – de tal modo que as adequações a elas vieram um pouco tardia e incompleta, deixando de ocupar nas novas gerações o mesmo espaço que ocupara nas anteriores. Infelizmente, é triste ver que muitas pessoas hoje acreditam mais em um post de rede social – sem a necessidade de qualquer compromisso com a verdade –, em uma acusação sem evidências ou em um boato infundado do que em uma notícia elaborada por um profissional do jornalismo que durante dias trabalhou levantando dados, ouvindo as partes, fazendo análises, investigações e uma redação que represente os fatos da forma mais precisa e imparcial possível.

Os ataques cada vez mais frequentes à imprensa e a sua livre atuação não são uma forma de garantir a liberdade. É, na verdade, o exato oposto.

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Em paralelo, viu-se uma crescente e insistente crítica, cuja narrativa mais comum – que curiosamente une esquerda e direita, ainda mais nesse momento de extremos que vivemos – baseia-se em supostas imprecisões ou excessos pontualmente cometidos, apresentando a exceção como uma regra. Isso, se de fato ocorreu, de modo algum serve de pretenso argumento para enfraquecer ou tirar a importância dessa instituição, se assim podemos chamar a imprensa como um todo.

Essa triste conjunção deu origem a um oceano de “influenciadores” que emitem“opiniões” de todas as sortes, o que em si representava inicialmente pouco ou mal nenhum, pois todos têm o sagrado direito de se expressar e de pensar como bem entender, desde que sem cometer crime, ofensa ou ameaça. Mas nesse contexto, tornou-se demasiadamente fácil se fechar em uma bolha, na qual o indivíduo consome apenas conteúdos que reforçam a sua própria opinião, por vezes à revelia dos fatos e do contraditório: uma verdadeira realidade paralela.

Ainda pior, alguns grupos perceberam que parte dessas várias vozes dispersas poderiam ser coordenadas de forma sutil, velada e praticamente imperceptível, em uma quase sinfonia, para criar uma narrativa desejada, ainda que desconectada da realidade, usando reforço, laços de confiança e a proximidade. Somando-se a isso, ferramentas de automação, análise de dados e de perfis, bots e aplicativos de comunicação massificada ameaçam criar uma tragédia.

Assim, os ataques cada vez mais frequentes à imprensa e a sua livre atuação não são uma forma de garantir a liberdade. É, na verdade, o exato oposto. Se as democracias pelo mundo se mantiveram em pé até hoje, em relevante parte se deve ao jornalismo, que permitiu, por exemplo, que fossem expostos malfeitos de governos de todas as vertentes políticas, de empresas e até mesmo de indivíduos, informando a sociedade inclusive sobre aquilo que talvez fosse mais confortável não saber. O remédio contra eventuais e pontuais imprecisões ou até exageros, se ocorrerem, deve se pautar sempre na apresentação de argumentos e evidências, nunca na tentativa de impor o silêncio, no ataque, no demérito e na desinformação.

Jeanfrank Teodoro Dantas Sartori é doutorando, mestre em Gestão da Informação pela UFPR, especialista em Business Intelligence pela UP e graduado em Administração pela UFPR.

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