| Foto: Josh Edelson/AFP

Steve Jobs foi escolhido, em 2010, pela Harvard Business Review como o CEO de melhor desempenho em todo o planeta, graças às revoluções inovadoras que produziu. Isso suscitou questionamentos a respeito do pensamento criativo: seria ele genético? Muitos acreditam que algumas pessoas, como Jobs, nasceram com genes criativos. Pessoas inovadoras têm o hemisfério cerebral direito mais desenvolvido, o que significa que seriam naturalmente dotadas de habilidades criativas. Essa hipótese, no entanto, está errada.

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No campo da inovação que gera negócios, os pesquisadores Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton Christensen afirmam que praticamente todas as pessoas têm alguma capacidade para o pensamento criativo e inovador. Usando os lances de Jobs, vamos explorar como a sua trajetória o ajudou a “pensar diferente”.

Pelo fato de Jobs ter se envolvido com o zen e praticado meditação, ele decidiu que um computador pessoal deveria ser silencioso. Assim, ele determinou que o Apple II – o computador que colocou a Apple no mercado – não deveria ter ventilador. Era um conceito radical para a época, pois os computadores exigiam ventiladores para não superaquecerem por efeito do power supply. Para conseguir seu intento, Jobs foi atrás de quem pudesse produzir um power supply que não gerasse tanto calor, e acabou encontrando Rod Holt, da Atari. Depois de algum estudo, Holt produziu um alimentador que o tornou o Apple II o mais silencioso e menor computador pessoal já produzido.

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Jobs se fez aberto à inovação e desejoso de produzir o novo

Em 1979, Jobs visitou o Xerox Parc com o intuito de convencer a Xerox a investir na Apple. À época, a Xerox trabalhava no projeto do escritório do futuro. Foi lá que Jobs se deparou com uma tela repleta de ícones, menus e janelas, tudo controlado por um mouse. O que ele viu estava bastante incompleto e com imperfeições, e a Xerox não sabia muito bem o que fazer com aquilo. Depois da visita, Jobs atraiu pessoas que contribuíssem com novos conhecimentos e passou cinco anos na Apple liderando um time que produziu o primeiro computador pessoal com uma interface gráfica com o usuário (GUI, da sigla em inglês).

Jobs estudou no Reed College, que era a instituição mais famosa dos Estados Unidos na área da caligrafia. Isso fez que ele quisesse unir o Mac a uma impressora laserwriter, que se tornou a primeira impressora a produzir desktop publishing para a população não especializada no assunto. Jobs consultou usuários potenciais e verificou que tal resultado encontraria grande aceitação no mercado.

O que podemos aprender da capacidade de Steve Jobs em “pensar diferente”? Primeiramente, constatamos que suas ideias inovadoras não brotaram formadas por completo da sua mente, como se ele tivesse um dom especial herdado. O que de fato ocorreu foi: a vontade de desafiar o statu quo; uma apurada observação de diferentes tecnologias, empresas e consumidores; a experimentação em busca do novo e a comunicação com pessoas que agregaram novos conhecimentos para gerar novas oportunidades a partir dos desafios por ele propostos. Jobs se fez aberto à inovação e desejoso de produzir o novo.

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O resultado dessas capacidades tornou a Apple uma empresa ícone em inovação que produz negócios mais competitivos, o que é comprovado agora, quando ela se torna a primeira empresa privada do planeta a atingir US$ 1 trilhão em valor de mercado, ultrapassando outras gigantes do setor de tecnologia como Amazon, Alphabet (matriz do Google) e Microsoft.

Criatividade não é um dom geneticamente herdado e não é simplesmente uma habilidade cognitiva. Ideias criativas vêm de habilidades comportamentais que eu e você também podemos adquirir para pensar diferente e gerar criatividade voltada à inovação.

Marcos de Lacerda Pessoa, mestre, Ph.D. e pós-doutor em Engenharia, membro do Centro de Letras do Paraná, é superintendente de Inovação da Copel, autor de “Sementeira de Inovação”, editor e coautor de “Pinceladas de Inovação” e coordenador do site www.futuri9.com.