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O perigo das drogas: a China do passado e o Brasil do presente

Cracolândia: candidatos à prefeitura de São Paulo prometem acabar com o problema que perdura por mais de 30 anos na capital paulista.
Cracolândia: Problema perdura por mais de 30 anos na capital paulista com consumo de drogas ao ar livre (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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James Clavell, em sua magnífica bibliografia, descreveu a decrepitude da China no século XIX, devido ao vício da sua população por uma droga. Aquilo que culminou com a Guerra do Ópio, foi um processo de dominação planejado e bem executado pela Inglaterra, que promoveu o esplendor da Era Vitoriana.

Da leitura da obra, que versa sobre as aventuras da conquista da Ásia pelos ingleses, interpretam-se alguns estratagemas da diplomacia internacional, ensinamentos distantes das pessoas comuns, as quais, enquanto empregam suas energias na geração de riquezas, não conseguem se deter para analisar o futuro de seu país.

Em certa passagem do livro e da própria história, o leitor se depara com o princípio da extraterritorialidade, mencionado e romantizado por Clavell, que revelou como a China se subordinou a interesses estrangeiros, ao permitir constantes agressões à sua soberania, violações dissimuladas e aceitas por autoridades corrompidas em meio ao comércio do chá chinês pela droga do ópio da Caxemira. Em síntese, a população da China, flagelados pelo vício nas drogas, não souberam, não puderam e não conseguiram se defender das ameaças externas, que se materializaram por mais de um século. Hong Kong, por exemplo, só voltou às mãos chinesas em 1997.

Sabe-se que a defesa de uma nação tem seus alicerces fortemente baseados nas riquezas individuais geradas pelos seus cidadãos que, acessoriamente, promovem outras coletivas, impulsionando a indústria desse setor e garantindo a exploração da terra sob a tutela dos seus nacionais. Um país continental como o nosso, rico por natureza, não deixa dúvida quanto à necessidade de proteger o que produz e o que ainda não explorou, contudo, deve se defender de si mesmo, do ócio e do ópio, para afastar-se do tipo de epidemia que afligiu a potência asiática no passado.

As cracolândias acolhem o filho do trabalhador simples, tanto quanto a esposa do doutor e, aos poucos, drenam as energias de todos os estratos sociais e da nação

A liberdade é um dos bens imateriais mais preciosos de uma sociedade e deve ser defendida a todo custo; em excesso, é uma arma apontada para o coração da nação, principalmente se não for bem compreendida pela sua gente. Ninguém discorda que, para um povo que tem muito a evoluir em educação, o Estado deve ser cauteloso com as futuras gerações.

Nesse contexto, como o Brasil deve lidar com suas cracolândias, onde a condescendência excessiva impõe a milhares de pessoas a mais completa indigência? É factível afirmar que os indivíduos nesses ambientes se multiplicam e morrem sob o silêncio de quem deveria cuidar deles. Traduzindo, é um ambiente onde se promove a liberdade que condena e se permite o vício que escraviza.

A resposta à pergunta anterior é simples: deveríamos banir todo tipo de droga, qualquer que fosse, o que, sob o ponto de vista antropológico, é quase impossível. Então, medidas de controle sistêmicas devem ser adotadas, tendo a educação como carro-chefe desse processo.

Atualmente, o flagelo das drogas chegou a tal ponto que a sociedade não o estranha mais e não sabe se defender desse mal. As cracolândias acolhem o filho do trabalhador simples, tanto quanto a esposa do doutor e, aos poucos, drenam as energias de todos os estratos sociais e da nação. Quem assistiu o filme Feito na América, com Tom Cruise, viu métodos inteligentes de uma poderosa organização para a conquista de um objetivo definido que exigiu até esforço militar. Quais seriam os interesses estrangeiros que se escondem por trás do narcotráfico aqui?

Nossos avós e os avós deles souberam se defender de ideias agressivas aos seus costumes; sim, sempre houve álcool em excesso e outros vícios, no entanto, as portas nunca estiveram tão escancaradas para perigos difusos como os de hoje em dia. Será que os brasileiros deste século precisarão viver a experiência da China do século XIX com as drogas para ser potência de igual quilate no século XXIII? Às vezes, o avanço é retrocesso! O inglês Edmund Burke assinalou muito bem essa premissa em suas Reflexões sobre a Revolução Francesa: um povo que não cultiva a memória de seus ancestrais não cuidará de seus descendentes.

Daí ser tão importante o interesse pelo tema abordado neste artigo, porque a trajetória da nação brasileira pode não ser igual à da China, até porque, naquela época, não havia a tecnologia que há hoje, tampouco armas nucleares que dissuadem adversários, antes que estes apelem mais incisivamente por seus interesses.

Para não perder o fio da meada de quem me acompanha, não temos os efetivos das forças armadas chinesas, que sempre foram muito maiores do que os de seus contendores, capacidade que lhes garantiu a sobrevivência diante dos múltiplos desafios, incluindo os do século XX. Não à toa Napoleão disse: se a China acordar, o mundo tremerá. Ela acordou! O mundo está tremendo e isso é vida, é real, não é arte. Os brasileiros precisam se descolar da viagem das drogas e se proteger, inclusive de si mesmos.

José Arnon dos Santos Guerra, coronel da reserva, foi coordenador geral de Políticas para a Sociedade na SENASP, entre 2019 e 2020.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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