Após um ano de grandes turbulências na economia mundial, o cenário já está mais claro, as economias estão em processo de recuperação e existe uma perspectiva de razoável de crescimento em 2010.
Há um ano, o cenário era um tanto quanto nebuloso. Existia uma certa expectativa de que a economia brasileira alcançaria um razoável crescimento em 2009, mas a incerteza quanto à profundidade da crise, em nível mundial, era grande.
Nossa economia acabou sofrendo um impacto maior do que o esperado, com crescimento previsto próximo de zero, em 2009. Por outro lado, as economias desenvolvidas mostram sinais de recuperação e as previsões de crescimento para 2010 ficam entre 1% e 2,5% para Estados Unidos, Zona do Euro e Japão, de acordo com relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ou seja, as medidas de política monetária e fiscal realizadas pelos gestores de política econômica de diversos países tiveram efeitos positivos, evitando um colapso da economia mundial.
A melhora nas expectativas dos agentes e no cenário internacional, o crescimento do crédito doméstico e as medidas de política fiscal e monetária adotadas pelo governo brasileiro também têm apresentado efeitos consideráveis sobre a economia brasileira. Esta deve crescer, em 2010, cerca de 4,5%.
O crescimento superior da economia brasileira em relação à média mundial, tanto em 2009 quanto em 2010, mostra a robustez dos fundamentos econômicos, principalmente devido à melhora das contas externas em anos anteriores à crise. Nossa economia estava preparada para enfrentar uma crise de proporções mundiais e está mostrando uma grande capacidade de recuperação.
Agora, é preciso ficar atento para que o excesso de otimismo não prejudique a retomada do crescimento da economia brasileira, como já enfatizado por Paul Krugman, Prêmio Nobel em economia e professor de Princeton. Em outras palavras, esse excesso de otimismo e as taxas de juros extremamente baixas em quase todas as economias do planeta têm atraído uma grande quantidade de capitais para o Brasil. Uma das consequências é a grande apreciação do real.
Devido a esse processo de apreciação cambial, ocorre, no curto e médio prazo, uma tendência de deterioração das contas externas com queda das exportações e crescimento das importações. Assim, o país fica mais dependente da entrada de capitais, acumula dívida externa e, portanto, fica mais vulnerável a crises internacionais.
Em períodos mais longos de tempo, a apreciação da taxa de câmbio provoca uma mudança na estrutura produtiva favorecendo as commodities, pois estas passam por um momento de recuperação nos preços. Também prejudica o setor de manufaturados, já que este enfrenta o câmbio apreciado, além de contar com uma queda de preços que deve demorar mais tempo para mostrar alguma recuperação. Essa mudança estrutural tem impactos relevantes sobre o dinamismo da economia.
Outro ponto relevante é a necessidade de reduzir os estímulos fiscais, pois um menor nível de déficit fiscal ajudaria a controlar a elevação da dívida pública e, consequentemente, propiciaria a manutenção dos juros em patamares mais baixos, ou melhor, atenua o processo de elevação dos juros em 2010.
Desse modo, podemos dizer que o cenário econômico se mostra bastante favorável em 2010. No entanto, para que o país mantenha um bom nível de crescimento econômico em anos posteriores, os gestores de política econômica e o governo, de forma geral, precisam prestar mais atenção à taxa real de câmbio e ao déficit fiscal.
Luciano Nakabashi, doutor em economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia. E-mail:luciano.nakabashi@ufpr.br