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Peru: extirpando o câncer da corrupção

Presidente do Congresso peruano Pedro Olaechea
Presidente do Congresso peruano, Pedro Olaechea. (Foto: Cris BOURONCLE/AFP)

A recente crise política no Peru, provocada pela dissolução do Congresso, decidida legalmente pelo presidente Martin Viscarra, obedece a diversos fatores políticos e não políticos. Na área política, a decisão presidencial obedeceu a que o Congresso aprovou um membro do Tribunal Constitucional, que estava seriamente questionado pelo governo, pelo fato de ser primo do presidente do Congresso, Pedro Olaechea – além de não ser transparente esta eleição, pois não permitiria avaliar pessoalmente o candidato, alem de ter antecedentes controvertidos. O governo queria que se aprovasse um voto de confiança para desenvolver um processo de seleção mais transparente dos membros do Tribunal Constitucional.

Uma crise política como no Peru gera um ambiente de volatilidade econômica, impactando diretamente nas oportunidades de investimentos no país

No entanto, outros fatores não políticos foram decisórios para desencadear a crise. A empresa brasileira Odebrecht desenvolveu um processo amplo de corrupção política no Peru, gerando a prisão de três ex-presidentes e o suicídio do quarto. Isso foi causado pela instalação da Lava Jato peruana, realizada por procuradores de justiça, que provocou a prisão dos ex-presidentes e de outros políticos. A Odebrecht usava o mesmo sistema imposto no Brasil, descoberto pela Lava Jato, usando codinomes para esconder os políticos que recebiam caixa 2.

A história promete ganhar novos capítulos nos próximos dias. O diretor da Odebrecht no Peru, Sergio Barata, está depondo na Justiça Federal, em Curitiba (PR), e prometeu revelar os nomes dos codinomes utilizados pela empresa no Peru. Esse seria um dos fatos que o Congresso peruano queria esconder com a eleição dos membros do tribunal pelo sistema tradicional, ao qual o governo de Viscarra se opôs e gerou a dissolução.

É impressionante observar como o sistema de corrupção realizado pela Odebrecht teve uma ação continental. São 11 países, onde a empresa atuava, realizando suas próprias operações contra corrupção, que estão levando dezenas de figuras públicas para a cadeia. Uma demonstração de que a corrupção realizada era um ‘’processo sistemático’’, que alcançava todos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) na América Latina. Agora, “Lava Jatos” replicadas pelo continente buscam “extirpar esse câncer”. Como sempre, o povo é o principal afetado pelos esquemas. A população que luta para viver é afetada, principalmente, pela falta de emprego: uma crise política como no Peru gera um ambiente de volatilidade econômica, impactando diretamente nas oportunidades de investimentos no país e, consequentemente, na geração de empregos.

Rene Berardi é doutor em sociologia e atua como professor do Isae Escola de Negócios.

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