A investigação em pacientes com suspeita de câncer no Brasil esbarra em complicadores que atrasam o diagnóstico e merecem tanta atenção quanto os 60 dias assegurados por lei para início do tratamento. Na primeira instância do enfrentamento da doença, é preciso criar condições não só para o acesso à atenção básica de saúde, incluindo aí a capacitação dos profissionais em relação ao conhecimento sobre o câncer, mas também na garantia à população aos primeiros exames investigativos. Ninguém, a priori, "está com câncer" (apesar de este ser um medo constante); as pessoas estão "doentes", e um diagnóstico precisa ser comprovado ou afastado.

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Expandir o acesso exige uma gama de esforços dos gestores públicos e privados para enfrentar entraves, de pelo menos quatro ordens, que impedem a celeridade do combate ao câncer: políticos, estruturais, financeiros e tecnológicos.

Políticos, porque os municípios (ou estruturas de saúde) precisam atuar alinhados e firmar parcerias entre si para que aqueles com mais recursos possam dar suporte aos pacientes oriundos de locais menos favorecidos em aspectos investigativos, ou simplesmente dentro do seguimento da linha de cuidado e pesquisa diagnóstica. Estruturais, porque nem sempre o deslocamento entre essas etapas, ou mesmo essas cidades, é facilitado. Financeiros, porque há necessidade de financiamento de todo esse processo e, no caso de municípios sem condições de atendimento, custeio dos exames e tratamento eventual em outra cidade. E tecnológicos, porque o processo emperra se não houver um sistema integrado e atualizado com informações sobre a história clínica do paciente e o que já foi feito (evitando repetições desnecessárias e retardo nessa investigação), assim como onde estão as vagas, os recursos e os equipamentos adequados para cada caso.

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A fim de superar esses desafios – e reduzir as mortes causadas pela doença –, cabe aos gestores de saúde estaduais, municipais e privados desenvolver planos de atenção oncológica, contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Esses estudos devem contemplar todos os aspectos da área, incluindo promoção à saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. O estado do Amazonas e o município de Macaé, no Norte Fluminense, já contam com projetos de apoio na área oncológica, e o estado do Rio de Janeiro tem um Plano de Atenção Oncológica – todos elaborados pela Fundação do Câncer em parceria com os respectivos gestores públicos locais.

Caberia ao terceiro setor, aos governos e mesmo à iniciativa privada a criação de observatórios para acompanhar melhor esse sistema. Um exemplo que funciona bem é o trabalho realizado no estado do Rio de Janeiro pelo Unidos pela Cura, do Instituto Desiderata. O grupo, formado por gestores públicos, chefes dos serviços de oncologia pediátrica e organizações da sociedade civil, controla, por exemplo, quantas crianças tiveram suspeita de câncer em determinado período, o número de casos confirmados e o tempo médio de encaminhamento para o diagnóstico e início do tratamento, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a incidência de câncer vai aumentar dos 14,1 milhões de casos diagnosticados em 2012 para 22 milhões em 2030. Priorizar o diagnóstico é fundamental para maximizar a eficácia dos procedimentos de radioterapia, quimioterapia e cirurgias realizados no país, evitando que mais brasileiros e brasileiras entrem para as estatísticas de óbito da doença.

A "explosão" dos casos de câncer no país ainda está por acontecer nos próximos anos, com o envelhecimento da nossa população. Há tempo de nos prepararmos para eles!

José Eduardo Couto de Castro, médico, é consultor da Fundação do Câncer.

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