Há alguns meses, a expressão "ouvir a voz das ruas" é uma das mais usadas nos meios de comunicação e nas redes sociais brasileiras. Em junho, uma série de manifestações realizadas no país – por movimentos e causas diversas – demonstraram uma insatisfação da sociedade com alguns serviços públicos, ficando muito evidente também uma forte e generalizada resistência à política e aos políticos. Em resposta a esse amplo movimento social, a presidente Dilma Rousseff sugeriu uma consulta popular para a concretização da reforma política, que há quase 20 anos vem sendo debatida pelo Congresso, mas que até então não havia avançado.

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Há cerca de um mês, líderes do PT, PDT, PSB e PCdoB na Câmara protocolaram o Projeto de Decreto Legislativo que propõe a realização do plebiscito da reforma política. Pelo projeto, a consulta popular vai abordar inicialmente três temas: financiamento de campanhas eleitorais, possibilidade de coleta de assinaturas por meio da internet para propostas de iniciativa popular e coincidência de eleições, com perguntas muito simples e de fácil entendimento.

Nesta semana, uma minirreforma eleitoral foi aprovada pelos senadores, sendo enviada para a apreciação da Câmara. Entre as principais mudanças estão a proibição de que os partidos troquem seus candidatos na véspera da eleição e a limitação de gastos com combustível, alimentação e contratação de cabos eleitorais. Essas mudanças contribuem para melhorias no processo eleitoral, porém não são suficientes.

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Somente uma reforma política ampla, irrestrita e discutida com a sociedade poderá realizar mudanças estruturais no sistema, principalmente porque pretende acabar com o financiamento das campanhas eleitorais por empresas privadas. Estamos vendo, a cada eleição, campanhas mais milionárias. O poder financeiro, os interesses e os negócios muitas vezes acabam falando mais alto que a consciência do cidadão e suas necessidades. Isso é muito ruim para todos os brasileiros.

Pesquisas recentes demonstram que 72% dos brasileiros são a favor da reforma política, e apenas 41% se declararam informados sobre o assunto. No entanto, o tema é um dos mais acessados no portal e-Democracia, da Câmara dos Deputados. A discussão no Congresso vai despertar ainda mais os cidadãos para a necessidade de realização da reforma. Ações de publicidade em diversos veículos de comunicação – rádios, tevês e internet –, além de aumentar o nível de conhecimento sobre o tema, permitirão à sociedade e a nós, parlamentares favoráveis à proposta, sensibilizar deputados, senadores e partidos políticos que sempre se mostraram contrários a qualquer tipo de mudança política, partidária ou eleitoral.

São mudanças que a bancada do PT – com toda a sua história de luta pela participação popular nas decisões políticas – tenta fazer acontecer não apenas agora, mas há muitas décadas, tendo sido derrotada por uma maioria conservadora de parlamentares que permanece no Congresso, resistindo a toda e qualquer movimentação verdadeiramente democrática. Desta vez, não há um partido ou deputados federais em quantidade suficiente para negar à população o direito de manifestar sua opinião sobre a reforma política.

Acredito que teremos êxito. Rapidamente faremos a proposta tramitar e ser votada nos plenários da Câmara e do Senado, e enfim poderemos ouvir a voz das ruas. É fundamento do sistema democrático que todo poder emana do povo. Esta será uma grande e incomparável oportunidade de realizar profundas transformações. O plebiscito é a principal e melhor ferramenta que população e Congresso terão para ampliar o debate e qualificar a política de nosso país.

Zeca Dirceu, deputado federal, é vice-líder do PT na Câmara dos Deputados.

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