Câmara dos Deputado vota o PL das Fake News na próxima terça-feira (2).| Foto: Pixabay
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A polarização política faz muito mal ao Brasil. Nos últimos tempos, se tornou ainda pior e mais cruel. Um movimento que tornou o país mais raso e muito aquém do que poderia um dia sonhar em alcançar. Desde que a polarização se tornou regra, não existe mais ponderação, moderação e prudência no debate público. Muito pelo contrário, qualquer discussão de política pública se tornou contaminada e refém deste tipo de argumento.

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Se de um lado, há pessoas que ainda baseiam suas ideias em um ultrapassado debate sobre luta de classes, de outro, há ingênuos que acreditam em um levante socialista. Ambos estão errados e sabem disso. Na verdade, em ambos os lados vemos vigaristas vendendo ilusões para um povo que passou a ver a política como um clássico no futebol. Não importa a verdade, mas simplesmente a versão de seu grupo.

As redes sociais potencializaram demais esta realidade. Os algoritmos funcionam como um filtro perigoso que levam as pessoas a consumirem conteúdo voltado diretamente para suas crenças. Isto gera um falso sentimento de pertencimento a uma causa, ao mesmo tempo que cerceia o acesso a qualquer conteúdo crítico ao que pensamos. As redes se tornaram centro de formação de exércitos de pensamento único.

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O resultado ficou muito claro nas últimas eleições. Um país dividido ao meio com eleitores questionando a realidade em ambos os lados, refém das máquinas de propaganda construídas em torno de suas crenças. Uma realidade parecida com aquela vivida pelos Estados Unidos nas duas últimas eleições e que deve se repetir no próximo ano. Europa e todas as democracias seguem o mesmo caminho.

Para além do problema político e eleitoral, temos também um problema social. Jovens e diversos outros grupos têm sido brutalmente afetados pelo impacto que as redes têm causado em suas vidas. Discursos de ódio se proliferam na internet com extrema rapidez e deixam vítimas que vão além do mundo virtual, com marcas irreparáveis em muitas vidas e servindo de instrumento para massacres que acabam com outras.

Nosso país e o mundo vem trilhando um caminho muito perigoso. Precisamos estar atentos a isso. Como resultado, temos talvez o pior parlamento de nossa história, um dos mais fracos e despreparados, eleitos pela polarização e o discurso radical, e por isso mesmo, refém destas práticas. O resultado é que teremos legislações que impactam a vida nacional de várias gerações sendo votadas e discutidas por estas mesmas pessoas.

Estamos diante de uma situação desafiadora. O radicalismo surgido nas redes sociais tem aberto espaço e passagem para pessoas despreparadas e lideranças perigosas nestes tempos estranhos. Como disse o celebrado escritor Umberto Eco, “as redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares e não causavam nenhum mal para a coletividade. Hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis".

Vivemos em um período de invasão dos imbecis e não podemos esperar nada de bom quando somos liderados por eles. Resta ao mundo refletir sobre este movimento e entender se haverá uma autofagia deste sistema ou se realmente a humanidade desceu um degrau em direção ao inferno. Vale nossa reflexão.

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Márcio Coimbra é professor, cientista político e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]