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Três ou mais pessoas que se “amam” pretendem casar e constituir uma família. Quem pode ser contra? Ainda mais quando chamamos isso pelo nome bonito de “poliamor”. À primeira vista, isso é um problema ou um direito deles, e ninguém tem nada com isso, certo? Errado, e pretendo justificar meu ponto de vista.

Mas, antes, um alerta. Os rótulos servem para simplificar a nossa compreensão do mundo, mas podem confundir também. Sou presidente do Conselho do Instituto Liberal, e algumas pessoas acham que liberalismo é sinônimo de libertinagem, ou seja, um liberal “verdadeiro” não deveria se importar com nada que é feito com consentimento entre adultos.

Ao defender a importância da família tradicional, sou “acusado” de ser um conservador por aqueles que têm necessidade de colocar tudo em caixinhas simplistas. Não ligo; tenho meu lado conservador mesmo, pois acho que devemos conservar aquilo que presta, e nem tudo que é “moderno” é melhor. Mas o debate ganharia sem a preocupação exagerada com os rótulos. Devemos defender o que julgamos certo, e ponto.

De volta ao tema do artigo, há uma clara campanha “progressista” contra a família tradicional. O movimento feminista, sem dúvida, é o líder dessa revolução cultural em curso. Mas quem acha que o feminismo é uma luta legítima pelos direitos das mulheres, e não um ataque rancoroso ao homem e à família, com forte viés marxista, deveria ler O outro lado do feminismo, de Suzanne Venker e Phyllis Schlafly. Vai abrir os olhos.

Vivemos na era dos apetites, em que ninguém quer mais colocar freio nos desejos instintivos

É somente nesse contexto mais amplo que o “poliamor” pode ser entendido. Não se trata da defesa de uma liberdade ou um direito aos vários que se “amam” e querem viver juntos, e sim um ataque ideológico ao próprio conceito clássico de família. Desde o tempo de minha avó que o bacanal e a orgia existem, mas nunca ninguém teve a cara de pau de chamar um grupo sexual de família. É isso que mudou, e é isso que precisa ser condenado, para o bem da sociedade.

Vivemos na era dos apetites, em que ninguém quer mais colocar freio nos desejos instintivos. Só que o avanço e até a preservação da civilização dependem disso. O que diferencia o homem do cachorro é essa capacidade de frear impulsos. Não saímos por aí fazendo as necessidades no meio da rua ou transando com a mãe. Os tabus existem por uma razão, e a tentativa de derrubar todos eles, inclusive o incesto, é um ato bárbaro e infantil.

Certas tradições são mais importantes para nosso progresso do que podemos apreender, como sabia Hayek. O núcleo familiar sempre foi fundamental para a boa educação dos filhos e como foco de resistência às ideologias totalitárias. Por isso, entre outros motivos, o Islã, com sua poligamia, não conseguiu produzir sociedades livres e prósperas como as ocidentais. Por isso, todo movimento coletivista e totalitário teve a família tradicional como alvo principal.

“Poliamor” é um eufemismo para a velha poligamia oriental. E esta sempre foi essencialmente masculina. É irônico que feministas ajudem numa causa que tem viés claramente machista. Ou alguém acha mesmo que as “famílias” coletivas serão formadas por uma mulher e vários homens? O mais comum será sempre um homem e seu harém. É a porta de entrada do fundamentalismo islâmico em nosso país.

Como os liberais podem fechar os olhos para esses riscos, então? Hoje, só os religiosos, em especial os evangélicos, têm oferecido resistência a essa agenda torpe parida nas universidades. Mas é do interesse de todos que prezam a liberdade lutar contra esse ataque coordenado aos valores tradicionais.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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