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Milton Ribeiro e Arilton Moura, em reunião no MEC em novembro de 2021.
Milton Ribeiro e Arilton Moura, em reunião no MEC em novembro de 2021.| Foto: Luis Fortes/MEC

Os últimos acontecimentos envolvendo o Ministério da Educação (MEC) nos colocam diante de um fato que parece ter se tornado uma prática comum na nossa política atual: apelar para a esculhambação, desacreditar as instituições e a democracia, promovendo o desprezo e apatia pela política.

A esculhambação da educação, que infelizmente faz parte de nossa história e que agora tem como principal parceira a retórica do escândalo, configura um cenário caótico que nos deixa cada vez mais indignados. Diante de um total desprezo à ética, piorado pela apelação a um falso moralismo de viés religioso, que em nada condiz com o Evangelho, é preciso buscar alento na sensatez daqueles que não se cansam de esperançar e acreditam na valorização da dignidade humana como caminho de emancipação. Para tanto, a educação enquanto processo humanizador é fundamental.

O ex-ministro da educação, aquele que defendia que o Ensino Superior deveria ser para poucos, considerava que alunos com deficiência atrapalhavam nas escolas e ainda justificava a falta de verbas para educação por conta de outras necessidades mais urgentes do governo, e que atacava Paulo Freire por marxismo na educação, chegou a ser preso.

É investigado por suspeita de quatro crimes: corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), o que acabou gerando a operação “Acesso Pago”, da Polícia Federal.

Seja para desviar a atenção da população de problemas maiores ou para esconder o completo fracasso da gestão atual, que parece contar com ministérios que atuam na contramão das principais razões pelas quais foram criados, assistimos a uma repetição de episódios escandalosos envolvendo representantes públicos que configuram uma verdadeira “retórica do escândalo”.

Mas afinal o que pretendem de fato os que agiram e agem de uma maneira tão esculhambada na administração pública?

Que a educação seja um tema reprisado para candidatos a eleição ou reeleição a cargos públicos não é nenhuma novidade. Entretanto, trazer à tona de forma esculhambada que o interesse real de alguns está direcionado às verbas educacionais, no momento que o país vive uma de suas maiores crises econômicas e sociais, é um fato que, no mínimo, aumenta nossa indignação.

Contudo, o que fazer para que essa indignação não acabe no aumento da apatia em relação à política e todas as suas consequências para o país? Estamos diante de um desafio, cujo enfrentamento demanda justamente em primeiro lugar acesso à educação de qualidade para todos. Esse acesso tem sido negado, sobretudo às classes menos favorecidas, entre outros motivos, por repetidos episódios de corrupção e desvio de verbas.

O que será do futuro? Novos escândalos? Novos caminhos? Uma nova política? Uma nova educação? Soluções não cairão do céu. “Esperançar”, como ensinou Paulo Freire, não é ficar esperando que as respostas e soluções apareçam milagrosamente, mas comprometer-se e agir com responsabilidade para que as transformações almejadas se concretizem.

Então, vai ficar esperando? Mas “esperar não é saber” e “quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

Luís Fernando Lopes é mestre e doutor em Educação. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias e da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.

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