Os escândalos que abalam a política brasileira e a confiança do povo nas nossas instituições demonstram que os valores morais e os princípios éticos são artigos em desuso por grande parte daqueles que foram eleitos para conduzir a vida da nação brasileira. O sentimento de impunidade transborda as fronteiras do aceitável. Ultrapassamos há muito os limites da indignação. É preciso reagir.
Se as autoridades constituídas não inspiram confiança, a reação deverá vir da sociedade civil organizada. Lembremos que a palavra política vem do grego polis, que significa cidade. Curiosamente a cidadania vem do seu correlato em latim, civitatem. Esta relação já sugere a inseparabilidade entre o exercício político e os direitos e deveres implícitos na vida em comunidade. Portanto, é neste seio que devem florescer as ações de resgate e defesa dos valores morais e princípios éticos que devem nortear a condução do nosso destino.
Contudo, quais são os valores e princípios que a nossa sociedade aspira? Hoje, eles estão implícitos e os políticos tiram proveito disso por meio de políticas públicas demagógicas ou apenas assistencialistas. Com retórica e ilusionismo popular produzem-se discursos carregados de valores humanos seja na questão da saúde, da educação ou da segurança para ganhar nossa atenção e voto.
O apelo não é pelo sacrifício e solidariedade que a vida em comunidade exige. Ao contrário, é sobre como a política pública servirá aos interesses deste ou daquele setor da sociedade. Com isso, favorece-se mais a fragmentação do que a união social. Depois da fragmentação, virá a desintegração.
Por causa desta prática leviana, os impostos se tornam insuportáveis, em lugar de ser uma contribuição justa para o bem comum. A economia torna-se um sistema que busca maximizar a riqueza pessoal, em lugar de ser a medida para a criação de uma vida melhor. A política externa torna-se um assunto de comércio e divisas, em lugar de promover a paz e a sustentabilidade do planeta. O político torna-se uma triste caricatura ao invés de servir ao povo e guardar suas instituições.
Assim como uma doença física tem diversas fontes fisiológicas, emocionais, mentais e espirituais a "doença ética" de uma nação surge por diversos fatores e é preciso analisá-la de uma maneira sistêmica, apesar da tentação de imputá-la exclusivamente aos políticos. A lista de empresas envolvidas nas atuais denúncias, por exemplo, não é pequena: bancos, empresas de telefonia, fundos de pensão, siderúrgicas e outras corporações. Somem-se a esta realidade as heranças e conflitos mal resolvidos do passado, a mídia sensacionalista, a cultura do povo, a insuficiente educação, a economia volátil e o estado presente do planeta como fatores que podem influir no mal-estar cívico que assola o Brasil.
Entendo que a verdadeira crise é a de valores e princípios éticos nacionais. Como presidente da Federação das Indústrias do Estado de Paraná, proponho que o conjunto do empresariado deva estar no centro da resolução desta situação. Acredito podermos ser o elo da sociedade com o poder constituído, uma vez que o mundo empresarial e o político são campos com forças complementares e interdependentes. Devemos levar a cabo o décimo princípio do Pacto Global da ONU, assinado por 206 corporações empresariais brasileiras, que propõe como compromisso dos signatários "combater a corrupção em todas as suas formas".
Esta mobilização deve acontecer imediatamente. Ao fazer um estudo sobre 21 civilizações fracassadas do passado os gregos, os romanos, os egípcios, os incas e os maias, entre outros o historiador inglês Arnold Toynbee identificou dois fatores presentes em todas elas: 1) a concentração de poder e propriedade nas mãos de poucos; e 2) a incapacidade de fazer as mudanças necessárias antes do desastre.
O tempo disponível para reverter a situação em que a nossa nação se encontra é dramaticamente escasso. Por isso é necessário acelerar o passo. As empresas, por sua vocação empreendedora, deverão servir como força geradora do bem-estar para a sociedade e cobrar da instituição política um esforço equivalente. Somadas, certamente garantirão um Brasil melhor para as futuras gerações.
Há espaço para reencontrarmos o que nos une e define como nação, em oposição ao que nos divide, como parece pretender a atual retórica política. Se concordarmos que nossos esforços e empreendimentos individuais e coletivos dependem da qualidade da sociedade em que vivemos e trabalhamos, teremos o entendimento de que nossa responsabilidade é defender os valores e princípios éticos pertinentes à execução e condução de políticas públicas nacionais.
O Brasil do futuro depende da nossa disposição em criá-lo. É com este propósito em mente que devemos escolher os melhores entre os candidatos que passarão a concorrer por nossa atenção e voto.