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Políticas de reindustrialização estimulam o crescimento econômico?

Desemprego no Paraná atinge menor índice desde 2014
Paraná é um dos estados com maior percentual de emprego com carteira assinada no setor privado. (Foto: Gilson Abreu/AEN)

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Uma das estratégias do novo governo para estimular o crescimento econômico é aumentar a participação da indústria no PIB e no emprego, estratégia que tem sido chamada de reindustrialização do Brasil. De fato, alguns países apresentaram forte processo crescimento tardio que ocorreu com significativa elevação da participação da indústria no PIB e no emprego como, por exemplo, Japão, Coréia do Sul, Taiwan e, mais recentemente, China. Adicionalmente, os países desenvolvidos costumavam ser chamados de países industrializados, passando uma ideia de que o processo de desenvolvimento econômico estaria estreitamente interligado à industrialização de um país ou região.

Considerando o caso brasileiro, os momentos de maior crescimento econômico também ocorreram com ganho de participação da indústria no PIB e no emprego através de uma política ativa de industrialização via substituição de importações, com o estado que experimentou maior industrialização sendo aquele com melhor desempenho econômico: o estado de São Paulo.

Tentar estimular novamente a indústria seria um erro, ainda mais num contexto de escassez de recursos públicos.

As duas hipóteses chaves são que: 1) a indústria possui maior potencial de geração de tecnologias que elevam a produtividade; 2) existem importantes efeitos de encadeamentos da indústria com ela mesma e com os demais setores da economia. Essas duas hipóteses, caso verdadeiras, colocam a indústria como uma importante locomotiva do crescimento econômico. No entanto, quando olhamos países que tiveram sucesso em seu desenvolvimento econômico aliado a um forte processo de industrialização, outras políticas econômicas que estimulam a economia foram implementadas de forma simultânea.

Entre essas políticas podemos citar o fortalecimento das instituições de mercado, sobretudo do direito de propriedade, investimentos massivos em capital humano e infraestrutura, além de um processo de integração produtiva com outros países, que ficou conhecido como inserção nas cadeias produtivas globais. Essas mudanças estruturais certamente foram cruciais no processo de crescimento e desenvolvimento econômico desses países. Adicionalmente, atualmente, o setor de serviços tem apresentado segmentos cada vez mais dinâmicos, com papel de grande relevância no desempenho de diversas economias, inclusive dos países desenvolvidos.

O Brasil não obteve o sucesso esperado na política de crescimento via substituição de importações porque não conseguiu integrar a sua indústria com o resto do mundo de forma a se tornar competitiva e absorver tecnologia pela interação com outros países. Adicionalmente, no processo de industrialização, o país negligenciou o investimento mais importante que é na qualificação e capacitação das pessoas. O investimento em capital humano teria sido importante até mesmo para possibilitar que a indústria ganhasse competitividade avançasse no processo de especialização em etapas mais sofisticadas das cadeias globais de valor. Por fim, o excesso de burocracia, a complexidade do sistema tributário e mudanças das regras de forma constante que servem para auxiliar uma pequena elite foram e são entraves relevantes para a manutenção do processo de desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Tentar estimular novamente a indústria seria um erro, ainda mais num contexto de escassez de recursos públicos. Precisamos privilegiar políticas públicas que melhorem o ambiente de negócios e forneçam melhores condições para o desenvolvimento das competências e potenciais do povo brasileiro. Só assim o país irá prosperar.

Luciano Nakabashi é doutor em economia e professor associado da FEARP/USP.

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