Não é nenhuma novidade que somos mal representados politicamente no Brasil. Contudo, recentemente assistimos à retomada de algumas práticas já reprisadas em nosso histórico de pleitos eleitorais. Se a aprovação de um auxílio emergencial, política constantemente defendida por alguns parlamentares, encontrou enormes dificuldades para ser aprovada, tendo inclusive o valor reduzido, agora se tornou uma necessidade urgente para outros que eram radicalmente contra sua aprovação.
Acrescenta-se ao auxílio outras bondades que foram propostas e rapidamente aprovadas para socorrer a população, sobretudo a mais pobre, que teve diminuída ou perdeu sua fonte de renda e sente muito mais profundamente os efeitos corrosivos da inflação sobre suas possibilidades de compra. O que há muito tempo já deveria ter sido aprovado, como aliás defendiam alguns, só agora foi considerado. Perguntar o porquê dessa demora nesse contexto seria um mero exercício retórico do qual preferimos nos abster.
Assim, não obstante ao esforço da propaganda eleitoral para relacionar essas políticas aprovadas a uma suposta bondade de alguns que até pouco tempo faziam de tudo para impedi-las, fica evidente o caráter de armadilha eleitoreira embutida nesse pacote de bondades aprovado no afogadilho do pleito eleitoral. Com uma roupagem sofisticada assistimos ao renascer de práticas comuns em décadas passadas nas quais eleitores eram ludibriados com dentaduras e outros benefícios que já deveriam estar garantidos se a norma constitucional fosse cumprida.
O oportunismo na aprovação apressada de políticas de transferência de renda, diante da proximidade das eleições, confirma a maldade e incompetência de alguns que nada mais buscam do que satisfazer seus próprios interesses e os daqueles que os financiam e apoiam. Para esses, o povo nada mais é do que uma massa ser ludibriada a fim de oferecer seu voto a quem posteriormente irá prejudicá-lo direta ou indiretamente.
Vale lembrar ainda que se uma política aprovada pode ser viabilizada financeiramente e cumprida, isso se deve a contribuição de todos os cidadãos que pagam seus impostos direta ou indiretamente. Mas alguns candidatos insistem na falácia de atribuírem a si o que é mérito do trabalho coletivo do povo. Saúde, educação e segurança pública são alguns dos temas preferidos de candidatos que buscam a eleição ou reeleição. Contudo, a realidade vivida pelo povo com relação a essas temáticas, na maioria das vezes, está muito distante do que se propaga nos discursos eleitoreiros.
O afã propagandístico, eleitoreiro e sacrílego não isenta sequer o nome de Deus, que alguns acreditam poder contar como cabo eleitoral personificado em seus supostos representantes terrenos. Em nome de Deus alguns propagam mentiras e motivam o ódio, e até se manipula e se quer manipular. Cairá o povo brasileiro mais uma vez nessas armadilhas eleitoreiras? Um futuro não muito distante nos revelará. Até lá é preciso estar vigilante, porque os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz.
Luís Fernando Lopes é mestre e doutor em Educação e professor do programa de pós-graduação profissional em Educação e Novas Tecnologias e da área de Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter.