A nova série de dados integrantes do Sistema de Contas Nacionais (SCN) brasileiro, que tem como carro-chefe o Produto Interno Bruto (PIB), variável síntese do desempenho econômico, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cobrindo o intervalo de tempo compreendido entre 2000 (ano base) e 2005, e estimativa preliminar para 2006, incorpora aprimoramentos estatísticos e metodológicos.
Os avanços empreendidos encerram mais uma etapa de um processo de incorporação de aprimoramentos das técnicas de cálculo e das bases de informações para a mensuração das Contas Nacionais, iniciado ainda em 1986, quando o IBGE recebeu, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a devolução da delegação para a realização das estimativas macroeconômicas do país, com base em padrões internacionais definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), particularmente pelo Manual do System of National Accounts, de forma a alcançar graus aceitáveis de comparabilidade das grandezas econômicas entre os diferentes países.
Cabe realçar a correção retroativa até o exercício de 1995, com o uso da técnica de retropolação baseada na regressão dos pesos atualizados dos diversos segmentos econômicos, incluindo os mais dinâmicos recentemente tratados que, por sinal, mesmo desprovida de qualquer inclinação política, produziu uma transferência de crescimento do governo anterior para o atual.
Dentre os ganhos figura o emprego, na mensuração dos resultados, das contemporâneas, abrangentes e contínuas pesquisas anuais da indústria, comércio, construção, serviços, dos inquéritos de Orçamentos Familiares (POF 2002) e do Censo Agropecuário de 1995. Houve ainda a ampliação do uso de informações de fontes externas ao instituto como aquelas provenientes de registros administrativos, particularmente o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), da Receita Federal, e as apurações do BC.
Destacam-se também a medição mais adequada da contabilidade do governo, incluindo, além dos gastos de custeio e pessoal, os dispêndios em ativo fixo e a evolução do quadro funcional (em lugar da expansão demográfica). Igualmente notáveis foram a desagregação do setor agropecuário em segmentos com dinâmicas por vezes distintas, como lavouras e pecuária, e o acréscimo dos serviços de informação (informática, cinema, vídeo, televisão, rádio, agências de notícias, telefonia celular, internet banda larga, etc.). No caso de intermediários financeiros, a inserção de informações sobre fundos, tarifas, ativos e passivos, fornecidas pelo Banco Central (BC), e a eliminação do componente "dummy" por meio da repartição dos serviços prestados pelas instituições entre os diferentes agentes usuários, especialmente as famílias.
Todavia, as iniciativas do IBGE ainda preservam algumas insuficiências e/ou pontos falhos, dentre os quais sobressaem o retardo do uso, nos cálculos, das investigações anuais preparadas desde o ano 2000, a ausência de estimativas trimestrais de volumes de investimentos, separadas em construção civil, infra-estrutura e máquinas e equipamentos, tal como adotado em outros países, e a ainda frágil avaliação do consumo intermediário.
No fundo, ao acompanhar precipitadamente a prática mundial de ancorar as contas nacionais em pesquisas anuais probabilísticas, em lugar dos censos universais, principalmente em razão da insuficiência de recursos financeiros, o IBGE minimizou os efeitos da enorme distância temporal entre os dias atuais e a produção da derradeira referência estrutural às estimativas dos agregados econômicos, representada pelo Censo de 1985.
Essa distorção dificultou a captação plena das profundas alterações estruturais verificadas na base produtiva do país em período recente, derivadas do fracasso de sucessivas tentativas (ortodoxas, heterodoxas e híbridas) de combate à inflação inercial, na segunda metade dos anos 1980, e dos efeitos da alteração do marco institucional do país, desde o começo do decênio dos 1990, marcada pela inserção passiva na globalização produtiva e financeira, nos moldes da cartilha neoliberal do Consenso de Washington.
Gilmar Mendes Lourenço é economista e coordenador do curso de Ciências Econômicas da UniFAE Centro Universitário FAE Business School.
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