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Dívidas são, por si só, algo angustiante. Trazem consigo o risco da perda de controle, crescendo como uma bola de neve — e levando a outros débitos para quitar os anteriores. Em agosto, quatro em cada dez brasileiros — ou seja, 63,7 milhões de pessoas — viviam esse triste cenário de inadimplência, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e o Serviço de Proteção ao Crédito.
Esse quadro pode se agravar quando chegam as cobranças, por vezes sem dar chances do indivíduo buscar uma saída para o problema. Que fique claro: o credor está em seu total direito de obter o ressarcimento. Porém, esse processo deve ser humanizado, dando oportunidade para a quitação do débito de forma transparente e acessível.
Esse tem sido o norte das ações de instituições financeiras e deve ser, também, dos escritórios que auxiliam na recuperação de crédito. Estamos diante de um cenário difícil para o país, que ainda está se recuperando dos efeitos da pandemia. A ela, somaram-se inflação, crise econômica mundial e desemprego, deixando milhões de indivíduos e empresas sem ou com menores fontes de renda.
O interesse é mútuo: o credor quer receber seus recursos, enquanto quem está endividado tem que querer pagar suas contas. Com menos inadimplentes, há retorno ao mercado, com mais pessoas e companhias investindo e circulando dinheiro nos diversos setores. Há mais geração de renda e arrecadação de impostos, o que só traz benefícios para todos.
Portanto, é preciso oferecer alternativas para quitação de débitos, de acordo com o quadro de cada inadimplente. Existem muitas opções disponíveis, como negociação direta com bancos, programas de refinanciamento, parcelamento de dívidas ou mesmo processos de reestruturação extrajudicial e judicial. O melhor cenário dependerá das condições de cada um, das garantias e do tamanho dos valores em aberto.
Como lição para o futuro, é necessário, também, ampliar a educação financeira do país. Boa parte do descontrole das dívidas passa pela falta de conhecimento sobre finanças, o que leva a gastos desnecessários, ausência de organização do próprio dinheiro, além do risco de cair em golpes. Governos e instituições de ensino devem levar esse assunto desde cedo, nas salas de aula.
Ao final, o processo de recuperação de dívidas deve ser franco, responsável e humano, para que ambos os lados tenham suas necessidades atendidas. A retomada econômica passa, também, por devolver o poder de compra dos brasileiros, reduzindo o cenário de inadimplência. Um movimento que será positivo para toda a sociedade.
Alessandra Velloso é advogada e sócia-fundadora do Grupo Velloso.