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| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

É extremamente comum as pessoas enxergarem qualquer relação econômica como um jogo de soma zero. Se alguém está ganhando, alguém deve estar perdendo. O mundo dos esportes nos ensinou a pensar assim. Mas, definitivamente, o mundo do comércio internacional não é como o dos esportes. E esse é o maior desafio: mostrar que o comércio internacional não é um jogo de soma zero, pois bons acordos comerciais terminam por deixar melhores ambas as partes envolvidas.

Por que alguns países são mais ricos que outros? Essa talvez seja a pergunta mais antiga em economia. Entre diversas explicações, uma delas é: “acessibilidade ao comércio internacional”. O pesquisador do MIT Daron Acemoglu defende que nações como Inglaterra e Holanda tiveram um crescimento acima da média (principalmente) por dois motivos: serem economias integradas ao comércio internacional e terem boas instituições. Nações como Portugal e Espanha, embora tivessem acesso ao comércio internacional, tinham instituições absolutistas que não possibilitavam tirar proveito desse comércio. Já países como Itália tinham boas instituições, mas não possuíam acessibilidade ao comércio.

Mas qual é o motivo por trás do crescimento desses países? De maneira resumida, uma economia altamente integrada acaba por se especializar na vantagem competitiva do país. Essa especialização em uma área se traduz em ganhos de escala e maior eficiência. Ao mesmo tempo, o acesso a produtos do resto do mundo a preços mais acessíveis aumenta a competitividade dos setores. Em última instância, isso significa mais crescimento, maior renda e mais empregos.

Mas e o Brasil? Quando o assunto é comércio exterior, por onde andamos nos últimos anos? Independente de ideologias ou de boas intenções, é evidente que o Brasil não teve êxito ao se integrar ao comércio mundial. O país era responsável por 1,4% de todo o comércio internacional em 2011, e passou a deter apenas 1% em 2016. Não é exagero dizer que estamos perdendo lugar no mundo.

Não restam dúvidas – nem falta consenso entre economistas – de que o Brasil precisa reverter essa situação e recuperar o seu lugar no mundo. O que não é consenso, porém, é como reverter tal situação. Por isso, se quisermos aumentar a nossa participação no comércio global, devemos reavaliar três políticas que foram tentadas nos últimos 15 anos, mas que em grande medida falharam. São elas: a insistência no “100% made in Brazil”; o foco no câmbio; e a aposta nos acordos multilaterais de comércio.

Proteger a indústria nacional de concorrentes externos é uma ideologia obsoleta

A ideia do “made in Brazil”, cujo objetivo é fortalecer a indústria nacional através do protecionismo, não é de hoje. Desde o governo militar o lema era “exportar é o que importa”. Nos últimos 15 anos, no entanto, voltamos a insistir nessa política. Essa insistência é um equívoco pelo simples fato de que o mundo aponta exatamente para a direção oposta. Hoje, as economias desenvolvidas buscam uma fragmentação cada vez maior das etapas do processo produtivo, as chamadas “cadeias globais de valor”. A Parceria Transpacífico, acordo de livre comércio estabelecido entre 12 países banhados pelo Oceano Pacífico e que inclui EUA, Japão, Chile, e Austrália, é um exemplo. O objetivo é reduzir tarifas de importação e aumentar a circulação de bens e serviços entre países membros. O Brasil, sem nenhum acordo significativo nos últimos anos, sentiu essa perda de competitividade e caiu da 42.ª posição (em 2005) para a 57.ª posição (em 2016) no ranking mundial de competitividade.

O câmbio desvalorizado foi a tentativa de aumentar as exportações brasileiras. Os resultados, porém, mostram que não deu certo. Desde 2011, quando as exportações atingiram o valor de US$ 256 bilhões, as exportações brasileiras não pararam de cair. US$ 242 bilhões em 2013 e US$ 191 bilhões em 2015, 25% de queda. Já a participação brasileira nas exportações mundiais saiu de 1,3% em 2012 para 1% em 2015.

Os defensores dessa política argumentam que, no curto prazo, isso incentiva as exportações. Isso de fato acontece! No longo prazo, porém, essa relação não é tão clara. Enquanto reformas para facilitar os negócios no país são deixadas de lado – um empresário demora 83 dias para abrir uma empresa no Brasil, contra 29 dias na média da América Latina –, a política cambial passa a ter papel praticamente nulo nas nossas exportações.

Por fim, a aposta nos acordos multilaterais de comércio deve ser reavaliada. Por mais de uma década, o país concentrou esforços na empacada e virtualmente fracassada Rodada de Doha. O custo dessa estratégia é alto. O Brasil rejeitou com frequência acordos plurilaterais (pelos quais participa quem quiser), enquanto vinculava qualquer movimento na Organização Mundial do Comércio. A falta de esforços para acordos preferenciais (regionais ou bilaterais) colocou o país à margem de novos acordos. Desde 1995, a OMC recebeu cerca de 400 notificações de novos acordos, responsáveis atualmente por cerca de 50% do comércio global.

Não é minha pretensão desmerecer ou diminuir outras ideologias. Porém, independentemente da ideologia econômica, 15 anos é um período suficientemente grande para afirmar que a política comercial não produziu resultados efetivos para o país. Está na hora de aprender com o passado e ceder lugar a uma nova agenda econômica.

Proteger a indústria nacional de concorrentes externos é uma ideologia obsoleta. Incentivar os produtores nacionais através de um câmbio desvalorizado também não surtiu efeito. O resultado é um país que, ano após ano, perde competividade e a sua posição no comércio global. A fim de recuperar essa posição, que um dia lhe pertenceu, devemos passar a adotar princípios econômicos e pragmatismo nas relações comerciais. Boas intenções não bastam quando os resultados deixam a desejar.

Leonardo de Siqueira Lima, mestre em Economia pela Universidade Pompeu Fabra, é Consultor na GO Associados e fundador do site Terraço Econômico.
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