Esqueça termos como “rentismo”, “estrutural” ou “inercial”. A principal causa da alta inflação no Brasil é o fato de não entregarmos a lição de casa fiscal. E a alta taxa de juros é a nossa consequente nota baixa.
Primeiramente, uma definição necessária: a inflação é o aumento contínuo dos preços de bens e serviços. Flutuações sazonais ou causadas por choques temporários não podem ser consideradas inflação.
No Brasil temos um problema crônico com esse fenômeno. A inflação jamais ficou abaixo de 5% por três anos seguidos (pelo IPCA, desde que o índice foi criado, em 1979; e pelo IGP-DI, desde 1945). Desde que começamos a medir a inflação no país muita coisa evoluiu; o que não mudou foi o fato de gastarmos mais do que temos e imprimirmos dinheiro por diversos meios para pagar a conta. Com mais dinheiro na praça, os preços sobem continuamente.
Desde que começamos a medir a inflação no país muita coisa evoluiu; o que não mudou foi o fato de gastarmos mais do que temos
Apesar da evolução institucional que tirou da tomada algumas impressoras (conta movimento do governo com o Banco do Brasil, limitação da atuação dos bancos estaduais, entre outros), ainda há brechas que permitem ao governo gastar mais do que sua capacidade e utilizar algumas impressoras de dinheiro para se financiar.
E onde entram os juros altos? Em um sistema de metas de inflação (adotado pelo Brasil em 1999), o Banco Central recebe a meta que deve atingir e utiliza a taxa de juros básica para controlar a demanda e arrefecer pressões inflacionárias para chegar ao seu objetivo. Se a inflação está acima da meta, o BC aumenta os juros para frear a demanda e reduzir o nível de preços.
Os juros deverão cobrir a inflação e compensar pelo risco tomado ao emprestar para o governo. Porém, para que esse instrumento funcione com maior precisão, é necessário que as demais taxas de juros da economia e a demanda estejam atreladas à taxa básica. Quando o Banco Central sobe os juros e o BNDES continua a emprestar com juros subsidiados ou o governo incentiva a demanda via déficits públicos, a efetividade dos juros no combate à inflação é reduzida.
Assim, para trazer a inflação para a meta, a dose de juros tem de ser maior. Como o mandato legal do Banco Central é trazer a inflação para a meta e seu instrumento é a taxa de juros, o BC eleva ainda mais a famosa Selic. Se os demais fatores ajudassem (a nossa lição de casa a ser feita), nem os juros nem a inflação seriam tão altos. A opção é clara: ou adotamos leis mais rígidas para um orçamento mais controlado e para que o governo respeite as regras fiscais, ou conviveremos com a dupla dinâmica: inflação alta e juros altos – e todas as suas consequências.
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