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O desemprego voltou a cair e o número de pessoas com carteira assinada subiu novamente, chegando a 35,6 milhões na média de março a maio de 2022. Porém, o total de informais também cresceu e atingiu 39,1 milhões, maior número da série iniciada em 2012.
Imagem ilustrativa.| Foto: Gilson Abreu/AEN

Enquanto estudava Letras na Universidade de Harvard, o jovem Timothy Gallwey, capitão da equipe de tênis da instituição, começou a demonstrar interesse pela modalidade esportiva e, anos mais tarde, iniciou sua carreira como treinador, já na década de 1970. Ele passou a observar seus alunos e percebeu que o antigo método "faça aquilo, não faça assim", já não funcionava. Foi a partir dessas experiências que passou a levar em conta, não apenas conhecimento técnico, mas também as experiências interiores de cada um, e a batalha contra medos, insegurança e limitações que cada jogador possui. Desses estudos, nasce o livro O jogo interior do tênis, que, no futuro, serviu também para o desenvolvimento de outros conceitos de coaching já bem próximos do que conhecemos hoje.

Há muitos anos representando profissionais que, de certa forma, conduzem seus clientes, seja em um jogo de tênis, no mundo corporativo, ou mesmo na vida pessoal, a profissão foi amplamente difundida. Em pleno século XXI, era da informação e da tecnologia, no entanto, a ocupação é, por vezes, infelizmente, confundida. E, em muitas ocasiões, desacreditada por conta de pessoas mal-intencionadas – que prejudicam toda classe profissional.

A confusão se dá porque na internet, sobretudo nas redes sociais, é possível encontrar, aos montes, "profissionais" que prometem metas, ganhos e benefícios inalcançáveis e efeitos milagrosos. A gama de vigarices é imensa: desde dobrar o salário em poucos dias, até reprogramação de DNA. Mas, seria justo que essas pessoas sejam denominadas coaches? Eu acredito que não. E digo isso porque estudo e atuo na indústria do coach há mais de 19 anos, e, de forma voluntária, trabalho pela profissionalização em nome da International Coaching Federation (ICF no Brasil), organização mundial que desenvolve padrões rigorosos e inegociáveis de ética, estabelece critérios e competências para excelência da prática do coaching profissional e zela pela seriedade na profissão.

Para endossar essa afirmação, trago dados recentes da Global Consumer Awareness 2022, pesquisa realizada pela ICF, que entrevistou mais de 30 mil consumidores, em 30 países diferentes sobre a percepção deles em relação ao coaching. 65% dos entrevistados, revelou que o coach contratado possuía uma certificação ou credencial. E desses, mais da metade (55%) se disseram muito satisfeitos com a experiência. Já o nível de satisfação entre membros não credenciados é bem menor: apenas 27%.

Para além das frases de efeito, promessas vazias de vantagens em curtíssimos espaços de tempo, o coach é, na realidade, um processo, cuja forma de trabalho se apoia no aperfeiçoamento individual de técnicas, habilidades e com ferramentas simples, mas muito eficientes, sempre visando o desenvolvimento da vida corporativa, e até pessoal. Não cabe ao coach dizer qual caminho ou escolhas seu cliente deve fazer, mas sim instigá-lo a buscar as suas melhores respostas.

Nossa batalha contra a banalização da profissão do coach, que estudou e dedicou anos aos processos de aperfeiçoamento de técnicas, se estende, também, para o acompanhamento e participação ativa no processo de regulamentação da profissão que está no Congresso. Desde 2019, quando houve a tentativa de criminalização do coaching, estamos atentos a todos os possíveis desdobramentos, da ideia legislativa, até audiência pública da qual participei, junto de escolas e outras instituições independentes e cuja conclusão foi que, no momento, a criminalização não faria sentido.

Foi nesse momento que surge a ideia de discutir a regulamentação do coaching no Brasil. Como consequência, uma série de projetos, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado foram apresentados, cujos textos de lei ainda seguem em discussão e, por essa razão, acompanhamos, de perto, os debates pertinentes a essa questão.

Para a ICF Brasil, a autorregulamentação é o melhor caminho, o que acontece em vários outros países, como França, Portugal, Hungria, onde também existe a banalização, que é um fenômeno mundial. Se nós, coaches, trabalhamos para que nossos clientes tomem suas próprias histórias nas mãos para adquirir capacidade de autogestão, seja na carreira ou na vida pessoal, com liberdade de escolha e decisões conscientes a partir de uma visão crítica e assertiva, não faz sentido que nossa profissão seja definida ou delimitada por algum órgão do governo.

Mas, caso o Brasil venha a escolher o caminho da regulamentação, é necessário que esta lei represente com qualidade e critérios universalmente aceitos a boa prática ética do coaching profissional. O ideal é que as entidades sérias e representativas ligadas à profissão possam contribuir com as melhores informações na construção dos pilares de ética, competências e habilidades que vão compor o texto de lei.

Neste sentido estamos dispostos a participar dos debates sempre buscando o alargamento de perspectivas e novos entendimentos sobre a profissão, apresentando melhorias e desempenhando um papel educativo, didático, que mostre à sociedade como um bom coach profissional pode contribuir para o desenvolvimento e aprendizagem de indivíduos, dentro ou fora das organizações.

Marcus Baptista é vice-presidente do Conselho Deliberativo da International Coaching Federation (ICF) no Brasil. 

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