Nos últimos meses, com o avanço da vacinação no Brasil – país que se tornou referência mundial em vacinação contra a Covid-19 –, o número de casos e mortes mensais caiu 90% desde o grande pico de março de 2021, chegando a 240 mortes em outubro. Mesmo com esta queda, ao menos 71 cidades do estado de São Paulo já estão anunciando o cancelamento do carnaval em 2022. Mas por quê? Claro que o momento ainda é de cautela e não devemos deixar os procedimentos de segurança de lado, mas o cancelamento, pelo segundo ano consecutivo, da maior comemoração brasileira pode impactar em diversos pontos. Vários setores podem se prejudicar.
Quando recebemos a notícia de que existe a possibilidade do cancelamento do carnaval no ano que vem, a primeira coisa que pensamos é que o setor de turismo e comércio, que move milhões nesta época do ano, é o primeiro a ser afetado. Para se ter uma ideia, em fevereiro de 2020 – o último carnaval antes da pandemia –, a estimativa era de que a data movimentasse R$ 8 bilhões, de acordo com a Confederação Nacional do Turismo (CNC).
Na pandemia este setor sofreu grandes oscilações. Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), as vendas caíram cerca de 50% em relação aos R$ 19 bilhões levantados em 2019. Além disso, o setor também fechou 1 milhão de vagas em outras empresas que prestam serviços para o turismo e viagens.
E, quando o assunto é viagem, não podemos deixar de lado as viagens corporativas que movimentam os negócios das empresas. Durante o feriado de carnaval, muitos empresários aproveitam a data para gerar networking e negócios. Para o ano que vem, quase metade dos viajantes corporativos espera voltar a viajar muito. Desde o início da pandemia, o segmento de viagens corporativas apresentou retração à medida que os eventos foram cancelados e as empresas iniciaram um plano de trabalho em home office, com utilização de soluções digitais para realização de reuniões de negócios. Passada a fase mais crítica, o setor apresenta recuperação.
Mas, além do turismo e do comércio, o feriado de carnaval também envolve questões culturais e sociais, já que é a data mais esperada pelos brasileiros. O evento envolve muitas pessoas, histórias e batalhas que estão por trás dos lindos desfiles nos sambódromos de São Paulo e do Rio de Janeiro, além das festas espalhadas por todo o país. E é importante começarmos a pensar que, depois de meses difíceis de pandemia, pensando em aspectos sociais e econômicos, essa data vai precisar passar por uma reestruturação. Não será este o momento de começar?
É muito importante que em 2022 – claro que sempre seguindo os protocolos de segurança contra a Covid-19 – o carnaval não seja cancelado.
Portanto, além do dinheiro e de todos os benefícios que a data proporciona para o Brasil, é muito importante que em 2022 – claro que sempre seguindo os protocolos de segurança contra a Covid-19 – o carnaval não seja cancelado. Se o cenário fosse de todo o comércio e estabelecimentos fechados, números de casos e mortes aumentando, pessoas em casa seguindo rigorosamente o isolamento social, como no começo de 2021, a discussão seria outra e, realmente, cancelar o carnaval seria uma medida necessária, mesmo com todos os fatos que pontuei acima. Mas, em um cenário de pessoas na rua, superlotando bares, casas noturnas, restaurantes e parques, vivendo uma vida normal, vale a pena prejudicar uma data com essa?
Recentemente, foi anunciado que o estado de São Paulo vai suspender o uso de máscaras em locais abertos. Com isso, talvez fosse o momento de o governo repensar essas medidas para evitar o aumento dos casos de Covid no Brasil sem prejudicar o carnaval.
Leonardo Bastos é CEO na Kennedy Viagens Corporativas.
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