| Foto: ddimitrova/Pixabay
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Caso o título desse artigo tenha lhe causado espanto pelo fato de um pai afirmar que sua filha não estudará em uma faculdade ou universidade, então você precisa rever alguns conceitos que compartilharei nas próximas linhas. Sou da geração que estudou, preocupou-se com o vestibular, fez faculdade, pós, mestrado e até cheguei a cogitar um doutorado. Na minha época o vestibular era um processo seletivo, mas hoje, na maioria das ofertas – principalmente nas faculdades privadas –, está mais para um sistema classificatório. Alguns cursos têm mais vagas que candidatos, ou seja, basta você babar na prova que está aprovado.

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Somada a essa primeira mudança, temos a alternância do modelo educacional do planeta. Como as novas gerações recebem o dobro de informações por vários meios, seus conhecimentos são gerados por execução, cabendo a cada indivíduo a busca pelo que realmente lhe interessa. Em resumo, atualmente a criança sabe muito de tudo e direciona seu esforço ao que desperta seu interesse. Parece óbvio, mas ainda são poucas as escolas infantis que compreendem essa regra. A grande maioria ainda envia lição de casa, ou pior, aplica a avaliação por notas. Há ainda aquelas que insistem em utilizar o slogan “preparo para o vestibular”.

Outro argumento que posso utilizar é o fato de a educação ter se tornado uma commodity. Toda e qualquer pessoa, física ou jurídica, com conhecimento pode ministrar cursos e aulas para suprir determinado objetivo ou demanda. Caso o leitor seja empresário, pense comigo: atualmente é mais vantajoso pagar, parcial ou integralmente, uma faculdade a seus colaboradores ou fazer um acordo bilateral com uma instituição e criar uma política própria educacional? Que tal uma universidade corporativa? Vale ressaltar que ações educacionais internas tendem a trazer exemplos específicos do empreendimento. Com uma boa política de recursos humanos, você ainda aplica métricas, OKRs e outras formas de mensuração dos participantes.

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Vale ressaltar que não utilizei, até agora, o tempo como argumento. Será mesmo que precisamos de quatro anos de um bacharelado? Uma vez ouvi de um professor a seguinte frase: “o que você aprende hoje não servirá mais quando se formar”. Recordo-me do meu cérebro traduzindo essa frase como “por que diabos você está fazendo isso?”. Atualmente “tiros” educacionais mais curtos surtem maior efeito. Assim como as crianças, exemplificadas anteriormente, o adulto que se interessar por determinado assunto buscará, por livre arbítrio, especializar-se. A especialização não mais pode ser vinculada a títulos. Especialização está muito mais vinculada ao propósito do que à carreira.

A geração da minha filha tem grande probabilidade de mudar tudo o que acreditamos ser comum. Casa própria? CNH? Sala de aula? Filhos? Concordando ou não, o que sabemos é que a nova década chegou para nos mostrar que nossas verdades e costumes serão colocados em xeque. Como na história da família e do peixe.

Certa vez estavam em uma cozinha quatro mulheres: bisavó, avó, mãe e filha. Elas estavam preparando uma receita antiga de um delicioso peixe. Ao ver a mãe cortando a cabeça e o rabo do peixe, a filha perguntou: “Mãe! Por que você corta a cabeça e o rabo do peixe?”, e ela respondeu: “Porque foi assim que minha mãe me ensinou. Por que você faz isso, mãe?”, perguntando à avó, que respondeu: “Simples! Porque foi assim que minha mãe me ensinou. Por que a senhora corta o rabo e a cabeça do peixe?” A bisavó disse: “Simples! Porque não cabia no forno!” As quatro olham, espantadas, o tamanho do moderno forno e percebem que já há muitos anos não ha mais a necessidade de se cortar o rabo e a cabeça do peixe.

Isso não desmerece qualquer tradição, mas coisas que fazemos hoje não terão qualquer sentido em um futuro breve, como um certificado de conclusão de curso de datilografia. Um dia tão importante e seletivo no mercado, mas hoje um objeto de curiosidade dos mais novos. Sendo assim, reforço que acredito ser bem difícil minha filha fazer faculdade. Talvez ela queira conhecer o mundo, salvar o planeta, ajudar as pessoas, cuidar do meio ambiente, ajudar os animais, erradicar a pobreza, ser sustentável, trabalhar com o que ama e fazer essas coisas típicas dessa nova geração. Essas crianças, eu, hein!

Thiago dos Santos Paiva é economista, turismólogo, mestre em Administração e proprietário da Choice Academia de Profissões.

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