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O mundo vive uma polarização moral que, há muito, só se via com a política. Agora, no entanto, o embate é outro. De um lado, os apoiadores do isolamento social como medida de combate ao avanço do coronavírus. Do outro, aqueles que ignoram a existência de uma pandemia e agem como se nada estivesse acontecendo. Entre eles, dois grupos chamam a atenção: o dos jovens e o do pessoal solteiro da faixa de 30 anos.
A adolescência já é vista há décadas como uma fase complicada na vida de qualquer pessoa. A rebeldia adolescente não só tem nome, como é temida pela maioria dos adultos. Todos sabem que chegará aquele momento em que o filho irá discordar de tudo simplesmente... por discordar. É quando eles testam os limites. Querem saber até onde podem ir. E confrontar os pais parece uma ótima forma de descobrir.
Nesse cenário, os adultos têm duas opções: voltar a ser crianças e agir de igual para igual, ou usar a experiência para contornar a situação. Quanto mais disserem que o adolescente está errado, mais reforçarão o seu comportamento. O melhor é dizer que estão certos? Não. Mas é preciso saber conversar tirando o ar professoral. É preciso que o adolescente sinta que foi uma decisão dele agir de forma mais consciente, e não que acredite estar apenas obedecendo outra pessoa. Como?
Alguns jovens agem com desdém em relação à pandemia porque veem a morte como algo distante. Assim como as pessoas na faixa dos 30 anos e sem filhos. Nesses grupos, ninguém imagina que vá pegar a doença e morrer. Quando muito, sentirão um mal estar que será superado. É preciso que eles vejam que a realidade pode ser diferente. Ou que eles podem passar a doença a alguém que terá uma reação oposta.
Mais do que isso: é preciso que eles tenham consciência de que são capazes de influenciar outras pessoas. Pessoas que talvez não tenham as mesmas condições financeiras para ter um bom plano de saúde, para realizar exames ou para viajar a um lugar afastado. Uma pessoa pode publicar que está em uma ilha isolada e despertar no outro a vontade de ir para a praia também, com a diferença de que o outro talvez precise satisfazer esse desejo em um lugar mais aglomerado.
Os adultos precisam mostrar aos jovens e aos trintões que eles são mais importantes e influentes do que imaginam. E isso não se faz por meio das críticas. É preciso inteligência emocional. É preciso lembrar que, quando mais jovens, talvez tenhamos agido de forma parecida. Nessas idades também não pensávamos na morte. E isso não é de todo criticável.
Ana Gabriela Andriani é psicóloga e mestre e doutora em Educação.