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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Talvez a pergunta esteja errada, pois historicamente todas as sociedades sempre foram pobres. Mas por que alguns países enriqueceram e o Brasil, que tem enorme extensão de terra agriculturável, diversidade e volume de recursos naturais, clima favorável, sem terremotos, tsunamis ou vulcões, não enriqueceu?

Sempre que ouço uma teoria tentando responder essa pergunta me surpreendo com a criatividade das pessoas. Já ouvi que o fato de o Brasil ter sido colonizado por portugueses, e não holandeses ou ingleses, é o motivo da pobreza até hoje. É comum também a tese de que somos um povo que sempre quer se dar bem, que só existem dois tipos de brasileiros – os que roubam e os que não tiveram a chance de roubar – ou, ainda, a de que o problema é o pouco investimento do país em educação. Câmbio muito valorizado, infraestrutura ainda insuficiente e corrupção. Embora todas essas questões influenciem muito a forma como a nossa economia funciona, a resposta adequada para isso seria mais simples: intervenção estatal.

A primeira onda de revolução que vimos com o surgimento do Uber e AirBNB foi só o começo

Tudo no Brasil precisa ter aval do governo: regras para abrir uma empresa, como as relações trabalhistas se dão, quantas empresas devem ou não competir em um determinado setor (e como devem fazê-lo), até o uso obrigatório do real como única moeda no país. Já pensaram que praticamente só os bancos podem emprestar dinheiro e as regras para abrir e manter um banco são tão absurdas que existem apenas poucos players, tornando os juros absurdamente caros? Que nenhuma outra empresa de telefonia pode entrar no Brasil, pois órgãos regulamentares proíbem, tornando o serviço caro e de qualidade duvidosa?

Via de regra uma empresa precisa dar lucro para continuar existindo. Se der lucro, significa que todo o custo que ela tem é repassado no preço do produto. Ou seja, sempre que o governo cria uma nova regra para “proteger” o consumidor, a empresa a adota e repassa esse custo na venda, fazendo com que o consumidor pague a conta final. Além disso, em função do alto custo para contratar pessoas obedecendo as leis brasileiras, as empresas optam por importar produtos mais baratos, já que a produção em solo nacional encarece a operação. Para piorar, o governo ainda imprime dinheiro e o injeta em setores específicos da economia, o que estimula investimentos de longo prazo de forma artificial e não sustentável.

A grande pergunta é: o que você pode fazer para não ter prejuízo com tudo isso? Primeiramente, é fundamental entender como se dão os ciclos econômicos e se adiantar a eles, não investindo em bolhas anunciadas. O segundo é usando a tecnologia para fugir do controle estatal. Nesse ponto, nada melhor que o blockchain – sistema de registros e contabilidade organizado em blocos e com formato descentralizado, sem regulação governamental. O blockchain nasceu com a criação das criptomoedas, que ganham cada vez mais espaço no mercado devido à sua constante valorização cambial. Entretanto, o conceito blockchain tem se expandido para outros setores do mercado.

Leia também:A arrogância fatal dos reguladores (artigo de Rodrigo Saraiva Marinho, publicado em 31 de julho de 2017)

Leia também:Os limites do governo (editorial de 29 de agosto de 2017)

A primeira onda de revolução que vimos com o surgimento do Uber e AirBNB foi só o começo. Esses, apesar de conseguirem criar soluções para fugir das regulamentações estatais, ainda estão parcialmente sujeitos a elas. Vislumbro que a próxima onda de empresas descentralizadas baseadas em blockchain ou em arranjos tecnológicos que ainda não conhecemos serão totalmente baseadas em livre associação de indivíduos renegando qualquer regra puramente governamental.

De modo geral, assim como vem ocorrendo em outros segmentos, a tecnologia deve impactar o mercado econômico, com a descentralização da moeda, dos negócios e do mercado de trabalho. A tendência é que cada vez mais essas atividades saiam das mãos do governo, à medida que o formato blockchain avance e ganhe outros patamares, pois será impossível – ainda que se tente – manter a estagnação burocrática e engessada em que vivemos.

Mateus Azevedo, administrador com pós-graduação em Gestão de Negócios, é sócio e diretor de Marketing e Vendas da BlueLab.
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