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O país encerrou 2024 com sinais no mínimo ambíguos em sua economia, que geram uma dúvida no setor produtivo: o Brasil não pode crescer? A pergunta, que em um primeiro momento pode parecer confusa, justifica-se ao serem analisados alguns indicadores e projeções sobre o contexto econômico do país. E demanda ações efetivas para que a economia brasileira, com a força da indústria, possa ter um crescimento consistente em longo prazo.
Por um lado, estima-se que a variação do Produto Interno Bruto (PIB), após anos de expansão média bastante moderado, deve fechar 2024 com alta em torno de 3,5%. Essas são as previsões feitas tanto por agentes do mercado financeiro, por meio do Boletim Focus do Banco Central, quanto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O expressivo crescimento tem, entre suas consequências, um forte aumento na criação de empregos, chegando-se a um cenário em que a força de trabalho do país já está quase toda ocupada. Hoje, as empresas encontram grandes desafios para preencher os postos que geram. Um problema que é agravado, ainda, por desvios que acontecem em programas assistenciais como o Bolsa Família, uma ação importantíssima, mas que abrange quase 30 milhões de beneficiários em idade economicamente ativa, dificultando a contratação dessas pessoas em regiões que têm sobras de vagas de trabalho.
Surpreendentemente, o Comitê de Política Monetária (Copom) aponta a saturação do mercado laboral e a consequente pressão inflacionária sobre os salários – causada pela disputa entre setores e empresas por um contingente de trabalhadores já empregados – como as principais razões para a elevação expressiva da taxa básica de juros. É justamente nessa alta demanda por mão de obra que reside a contradição em que o país se encontra.
Por sua grande capacidade de alavancar o desenvolvimento social pelo aumento da renda per capita, irradiando efeitos positivos para os demais segmentos e para toda a comunidade, a indústria é, sem dúvida alguma, o setor que tem mais condições para impulsionar nossa evolução
Uma medida que, mais do que fazer a necessária contenção de um eventual descontrole inflacionário, tem como efeitos colaterais a inibição dos investimentos produtivos privados e a desaceleração do crescimento econômico. Daí vem a impressão, contida na pergunta do título deste artigo, de que o Brasil não pode vislumbrar um ciclo mais robusto de expansão sem que, imediatamente, qualquer expectativa positiva seja frustrada pela realidade.
O fato é que essa contradição expõe uma armadilha estrutural em que o país está embrenhado. O alto índice de ocupação dos postos de trabalho não resulta em aumento de produtividade. Sem ganhos expressivos de escala, as empresas acabam repassando os aumentos de custos salariais ao preço final das mercadorias, alimentando ainda mais o processo inflacionário. No caso dos produtos industrializados brasileiros, inseridos em um panorama de forte concorrência global, isso representa também uma expressiva perda de competitividade.
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A solução para esse dilema passa por um verdadeiro choque de inovação no setor produtivo, para que o Brasil possa realmente crescer de forma contínua. É fundamental promover a modernização do parque industrial brasileiro, com investimentos em tecnologia e automação que permitam às empresas aumentar sua produtividade sem depender exclusivamente da contratação de mão de obra. Isso não significa a substituição pura e simples de pessoas por máquinas, mas a possibilidade de fazer com que empresas e trabalhadores sejam mais produtivos com o uso de equipamentos e processos atualizados.
Quando o setor produtivo conseguir produzir mais utilizando máquinas e tecnologias de ponta, certamente a economia do Brasil poderá crescer de forma sustentável. Se hoje o Brasil tem um PIB anual de aproximadamente US$ 2,1 trilhões, certamente poderia chegar a US$ 4 trilhões. Não por sua expansão populacional ou por altas na taxa de pessoas ocupadas, mas pela ampliação de sua produtividade e aumento do valor agregado de seus produtos. O que, por sua vez, permitiria a elevação do nível salarial sem gerar pressão inflacionária.
Obviamente, a melhoria de todo esse panorama passa por medidas que precisam ser adotadas pelas diferentes esferas do poder público para aprimorar o ambiente de negócios brasileiro e estimular que a iniciativa privada faça os investimentos necessários. Uma delas é a busca pelo equilíbrio fiscal e a eficiência dos gastos públicos, essencial também para o controle inflacionário. O governo federal precisa adotar políticas públicas que melhorem a distribuição de renda da população e reconhecer que a geração de riqueza tem sua origem na iniciativa privada. O Estado jamais ocupará o papel do setor empresarial nessa função.
Outra, que vem sendo incansavelmente defendida pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), é a criação de políticas industriais que criem estratégias efetivas para que o setor se atualize no país, tendo assim condições de competir em condições de igualdade e se inserir de fato nas cadeias globais de produção. Além de defender uma política federal mais ampla e efetiva, que permita à indústria um grande salto tecnológico, entendemos que é também papel de estados e municípios estimular o desenvolvimento industrial.
No Paraná, a Fiep já colocou em andamento, desde 2024, um processo para construção de uma proposta de política industrial para o estado, cuja indústria já é a quarta maior do país e tem potencial para crescer ainda mais. Entendemos que, com um conjunto de ações que busque soluções para desafios enfrentados em áreas como infraestrutura, empregabilidade, qualificação profissional, inovação e acesso ao crédito, entre tantas outras, o Paraná poderá se transformar no melhor lugar para a indústria do país.
Acima de tudo, o que queremos é garantir uma rota de crescimento. Por sua grande capacidade de alavancar o desenvolvimento social pelo aumento da renda per capita, inclusive por ser um dos setores que mais colaboram com a balança comercial positiva do país com suas exportações, irradiando efeitos positivos para os demais segmentos e para toda a comunidade, a indústria é, sem dúvida alguma, o setor que tem mais condições para impulsionar nossa evolução. Por meio dela, acreditamos, sim, que o Brasil pode crescer muito e de maneira sustentável.
Edson Vasconcelos é presidente do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos