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Por que o Brasil perde talentos em massa para os EUA
| Foto: Jan Vašek/JESHOOTS

Imagine que no quintal da sua casa há uma árvore frondosa, repleta de frutos maduros e prontos para serem colhidos. Contudo, a árvore está localizada ao lado do muro que separa a sua propriedade da do vizinho. Num determinado dia, o vento forte derruba os frutos no terreno ao lado, deixando você, que investiu tempo, dedicação e dinheiro no cultivo, apenas com galhos e folhas secas.

Essa é uma imagem que ilustra bem o atual cenário de fuga de cérebros do Brasil. Cada vez mais eles têm visto seus talentos – incluindo aqueles com elevado nível de formação técnica e acadêmica – irem para exterior, especialmente para os Estados Unidos, em busca de melhores oportunidades de vida e carreira.

Em 2023, segundo dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA, mais de 28 mil brasileiros receberam o green card – documento que concede a residência permanente a estrangeiros. É o maior volume já registrado e o quarto recorde em cinco anos. Mais do que isso, outros 12 mil brasileiros obtiveram a cidadania americana, segunda maior marca histórica, indicando a intenção de não retornarem mais ao Brasil.

É importante destacar que, do total de green cards emitidos para brasileiros no ano passado, 11.751 brasileiros foram por meio dos vistos EB-1 e EB-2, destinados a pessoas com habilidades extraordinárias, marcando um crescimento de 58,4% em comparação com o ano anterior. Em geral, são profissionais com ensino superior e mais de cinco anos de experiência na área de formação, pesquisadores, empresários ou outros trabalhadores que se destacam em suas indústrias.

Esse êxodo de talentos é reflexo das conjunturas contrastantes entre o Brasil e os Estados Unidos nos últimos anos

O mercado de trabalho americano enfrenta uma escassez de mão de obra, oferecendo salários elevados e criando um ambiente atrativo para profissionais qualificados de todo o mundo.

Os últimos dados divulgados pelo Departamento de Trabalho dos EUA, por exemplo, revelam que há 8,1 milhões de vagas abertas nas empresas do país. Ao mesmo tempo, contudo, são apenas 6,8 milhões de desempregados.

Esse cenário apresenta aos EUA dois grandes caminhos para resolver o problema: aumentar a inserção dos jovens no mercado de trabalho e atrair mais imigrantes. O candidato Donald Trump, que disputa a Casa Branca, até mesmo contrariou sua histórica postura rígida com a imigração. E defendeu que estrangeiros graduados em faculdades norte-americanas recebam o green card para permanecerem no país. Vale destacar que o Brasil é o quinto país com mais alunos internacionais matriculados nas universidades dos Estados Unidos.

Do lado brasileiro, apesar dos sinais recentes de recuperação, a economia ainda enfrenta questões como o desemprego, renda, juros e câmbio - o que estimula a busca por oportunidades em dólar.

A saída de tantos profissionais representa uma perda significativa para o Brasil. Nos últimos 20 anos o país investiu pesadamente na formação desses trabalhadores por meio da expansão do ensino superior e formação técnica. Em um país que ainda busca se afirmar como uma potência econômica e tecnológica, a falta de capital humano especializado pode retardar o progresso em setores essenciais como saúde, engenharia, ciência e tecnologia.

É o que acontece com médicos, enfermeiros, dentistas e fisioterapeutas, por exemplo, que estão entre os profissionais que mais buscam oportunidades nos EUA. A ausência deles em solo nacional restringe o acesso da população a seus serviços.

A retenção de mentes e talentos exige colaboração entre setor público e privado, com vistas nos desafios das próximas décadas, incluindo eventos climáticos extremos, proliferação da inteligência artificial, envelhecimento da população e construção da infraestrutura nacional.

Se o Brasil deseja colher os frutos do seu próprio potencial, precisa garantir que os brasileiros vejam o país como um terreno fértil para crescer e prosperar. Somente assim, será possível reverter a fuga de cérebros em uma colheita abundante de inovação e progresso.

Rodrigo Costa é CEO da Viva América e fundador da AG Immigration.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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