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Cerca de 76% dos jovens brasileiros gostariam de morar no exterior.  A razão principal é o ceticismo com relação ao futuro.

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Em 1940, fugindo do nazismo, o celebrado escritor judeu-austríaco Stefan Zweig veio morar no Brasil. Em 1941 lançou o livro Brasil, País do Futuro.  Seis meses depois, se suicidou com a esposa em Petrópolis (RJ) tomando barbitúricos e deixando 22 cartas sobre o suicídio.  Pacifista, estava desiludido com a ascensão de Hitler e a guerra na Europa.

A corrupção é uma espécie de óleo que faz a engrenagem se mover e, assim, entre outros fatores, o sistema todo se autoperpetua num ciclo de rabos presos ao subdesenvolvimento.

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Parece irônico que o Brasil, país do futuro, não tenha condições estruturais de dar um futuro a seus filhos. Também parece irônico que os EUA e Europa – após a guerra que causou o suicídio de Zweig – tenham se reerguido em poucos anos.  Enquanto o Brasil continua sonhando com um futuro que nunca veio.  Por quê?

O Ministério das Relações Exteriores estima que hoje há pouco mais de 4 milhões de brasileiros morando fora. Os EUA são o principal destino (40%), seguido de perto pela Europa (30%). Os outros 30% se espalham pela América Latina, Austrália e Ásia. Países mais desenvolvidos são preferidos por oferecer uma vida e um futuro melhor.

Morando nos EUA há 30 anos, vejo que as coisas funcionam. Renovo minha carteira de motorista online sem precisar ir a um Detran e recebo a nova carteira pelo correio. Vou ao médico de manhã e quando chego em casa, no final da tarde, já recebo o resultado de meus exames pelo computador. Se recebo uma multa de trânsito, tenho uma audiência com um juiz marcada automaticamente dentro de duas semanas para apresentar minha versão dos fatos.  Moro em uma casa sem muro, cerca ou arame farpado. Posso ter uma arma, mas nunca fiz essa escolha. Se eu discar 911 para chamar um carro de polícia, ambulância ou bombeiros, eles chegam em 5 minutos. Se eu estiver insatisfeito com uma compra, é fácil trocar ou receber restituição. Sei que não convivo com anjos nem estou no paraíso, mas a dignidade onipresente contribui para a qualidade de vida. Como aconteceu tudo isso?

Nossa primeira reação é pensar: “Ah! Como seria bom ver o Brasil finalmente desenvolvido para poder usufruir instituições e serviços que funcionam!”.  Mas, preste atenção: é exatamente o contrário. Sem instituições que funcionem, o Brasil NUNCA vai se desenvolver.

É claro que todo país desenvolvido também tem desafios. Morreu muito mais gente por causa da Covid-19 nos EUA (1 milhão) do que no Brasil (700 mil), mas não ouvimos ninguém chamando o presidente dos EUA de genocida por causa disso. O direito de portar armas está garantido na Constituição dos EUA, mas ninguém chama o presidente de assassino.

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A Suprema Corte dos EUA, uma instituição seríssima, nunca libertaria um indivíduo condenado por corrupção em instâncias precedentes para concorrer à Presidência do país. E mais: um candidato à Presidência que prometesse chope gelado e picanha como plataforma de governo apenas ganharia risadas e perderia milhões de votos – e não o contrário. Urnas, algoritmos e sistemas digitais que não podem ser manualmente auditados são ilegais em países desenvolvidos.

Na Alemanha que um dia elegeu Hitler, um sistema de votação que não possa ser facilmente entendido por um cidadão comum seria hoje considerado ilegal. Na Estônia os cidadãos votam pelo celular e recebem confirmação do voto. O responsável pela política digital do país me disse que eles não confiam nas urnas digitais.

Trabalhei na ONU em Nova York por 30 anos atendendo a convites de países que queriam melhorar suas cidades e suas instituições públicas. Cheguei a uma conclusão clara: alguns países possuem tecnologia, capacidade, recursos naturais e materiais suficientes para se desenvolverem. E, de fato, não se desenvolvem por falta de boa governança e má administração: as instituições não dialogam entre si e funcionam como cabides de empregos, os diretores das instituições são apadrinhados políticos, cada político e cada funcionário quer ganhar vantagens pessoais sem pensar no bem comum. A corrupção é uma espécie de óleo que faz a engrenagem se mover e, assim, entre outros fatores, o sistema todo se autoperpetua num ciclo de rabos presos ao subdesenvolvimento.

Se a cleptocracia te beneficia, ela vira sinônimo de democracia?

A ser confirmado o resultado, essa eleição terá sido uma inesperada ducha de água fria em uma promissora administração. Segundo dados do Banco Mundial, a taxa de extrema pobreza no Brasil em 2020 caiu para 1,9%, a menor de nossa história.  Segundo a Valor Econômico, o Real foi a segunda moeda que mais se valorizou em 2022. O Brasil contornou a crise e apresentou todos seus orçamentos no azul pela primeira vez em muitos anos, com crescimento do mercado interno e baixas taxas de inflação. O governo atual já captou mais de US $200 bilhões em investimentos no país para os próximos 10 anos. O país sedimentou uma matriz energética diversificada e a recente regulamentação interna de seu mercado de carbono. Aparentemente, o país do futuro começava a acontecer.

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Será que a solução agora será fazer com que todos viajem para a Disney para voltar a sonhar com um país do futuro?

Jonas Rabinovitch é arquiteto urbanista com 30 anos de experiência em inovação e gestão pública.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]