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A geração X foi a última a experienciar a adolescência longe das redes sociais. Desde então, com o avanço tecnológico, os aparelhos celulares deixaram de ser um objeto de comunicação e viraram uma necessidade. Há, claro, pontos positivos, que envolvem a disseminação de notícias, a criação de comunidades, mas aqui quero levantar um ponto que vem adoecendo os jovens, os problemas de imagem associados à baixa autoestima e insatisfação corporal.

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Tais insatisfações ocorrem principalmente devido ao uso excessivo de filtros que transformam a imagem real em imagem padronizada e mais bem aceita, aliado a um contexto que não valoriza o diverso e associa beleza ao estereotipado. É como se duas personalidades habitassem o mesmo corpo: a vida real e a publicada. Nas redes sociais, o adolescente hoje pode até moldar o próprio rosto, alterando a forma do nariz, preenchendo os lábios e até modificando o próprio peso. Para o adolescente, esse lugar é muito confortável porque ele cria uma imagem de si para conseguir se encaixar nesse mundo estereotipado.

Esse cenário acaba sendo uma grande armadilha. Fora das redes sociais, o que as pesquisas mostram é um universo contrário: baixo autoestima, insatisfação corporal e alta frequência de uso de aparelhos eletrônicos. É impressionante a quantidade de horas que os adolescentes passam no celular. E isso está atrelado às possibilidades de publicações (quanto mais se publica mais se é notado) e a facilidade em fotografar o próprio rosto e modificá-lo. Há relatos de meninas que chegam em consultórios médicos, carregando a própria imagem modificada, a fim de questionar se com cirurgia seria possível ficar com o rosto igual à foto com filtro aplicado.

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É importante ressaltar que, sim, os adolescentes estão nas redes sociais e que ali vivem uma realidade distinta, na qual eles fazem uma imagem ficcionada de si mesmo para se encaixar. As pesquisas mostram uma unanimidade no recorte de gênero: são as mulheres que sofrem mais com insatisfação corporal e ansiedade social por aparência. As meninas adolescentes fazem muito mais o uso de filtros e recursos e se sentem mais insatisfeitas com a sua aparência que os meninos.

O perigo principal ocorre porque a adolescência é uma fase de construção de identidade muito forte. Em tal período da vida ocorre a separação do jovem e seus pais. É um período em que se desenvolve a autonomia, os próprios gostos e desgostos. É um momento de experimentação da vida, até atingir uma identidade mais madura e sólida.

A solução está não em uma volta ao mundo analógico, e renúncia à tecnologia, mas em debater a inversão de valores que hoje em voga hoje em dia. A vida real, de carne, osso e imperfeições, não pode ser menos valiosa que a vida inventada e cheia de filtros das redes sociais. É preciso dosar esses dois mundos para que se compreenda aquilo que, de fato,  tem valor e aprender a valorizar a nossa própria imagem.

Lara Martinez é psicóloga, especialista em orientação analítica e mestre em Psicologia Clínica.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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