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Existem inúmeras definições acerca do que é conservadorismo, todavia, a mais clara, poética e popular é aquela definida por Sir Roger Scruton, no livro How to Be a Conservative [Como ser um conservador], no qual ele diz “O Conservadorismo advêm de um sentimento de que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas. Isso é verdade, sobretudo, em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, civilidade, espírito publico, a segurança da propriedade e da vida familiar, tudo o que depende da cooperação com os demais, visto não termos meios de obtê-las isoladamente. Em relação a tais coisas, o trabalho de destruição é rápido, fácil e recreativo; o labor da criação é lento, árduo e maçante”. Essa descrição é muito meticulosa, mas incompleta (pelo menos nessa parte do livro), parece-me que Scruton esqueceu-se de acrescentar nesse parágrafo a questão do meio-ambiente, levando em consideração o resto de sua inexorável obra e a obstinada defesa que ele fazia do meio ambiente como uma pauta fundamentalmente conservadora. Entretanto, os conservadores brasileiros não internalizaram os principais juízos da causa tradicionalista, principalmente, a preservação e a conservação do meio ambiente. Por conseqüência, guetos, coletivos, ONGs e partidos socialistas apropriaram-se da pauta e ressignificam o tema a todo momento, conforme seus interesses espúrios.
Em princípio, os conservadores utilizam-se de dois argumentos, que aparentemente são bem fundamentados, para justificar a ojeriza pelo tema. O primeiro é que essa excessiva preocupação ambientalista nada mais é que um subterfúgio rasteiro de partidos progressistas e do establishment, com o desígnio de travar o crescimento econômico do País e por conseguinte desgastar o senhor presidente da República, mesmo que o caos social cresça exponencialmente e afete todos os brasileiros, inclusive eles. Afinal, o que é a fome, miséria e dor perto do fetiche revolucionário. O segundo argumento parte do pressuposto de que por trás dessas ONGs e defensores da Amazônia estão bandos de metacapilatistas, que pretendem acabar com a soberania do Estado-Nação, tal como foi proposto recentemente por meia dúzia de lideres mundiais. Parece-me que nenhuma dessas explicações é suficiente para justificar o desprezo pelo meio ambiente, independentemente da veracidade das acusações. Será que o meio ambiente só começou a ser ferido, maltratado e golpeado a partir do governo de Jair Bolsonaro?... Claro que não. Contudo, não era conveniente aventar esse assunto entre 2003 e 2016. Eis o modus operandi da esquerda.
É certo que nós não podemos aceitar regras absurdas, distorções da realidade, mordaça e violações de direito desses pretensos defensores da Amazônia ou do meio-ambiente. No entanto, torna-se necessário um novo olhar dos conservadores para a causa ambiental. Caso contrario, ficaremos estigmatizado como conservadores que almejam conservar quase tudo, exceto, nascentes de rios, espécies de animais em extinção, matas ciliares, lençóis freáticos, recifes de coral, etc. a retórica não pode afastar-se da prática. Caso isso ocorra, as conseqüências serão nefastas, precipuamente entre os jovens, que na flor da idade pretendem alocar toda sua energia e força em prol de uma causa justa, correta e nobre, e concluirão (erroneamente) que o movimento conservador, e, por que não dizer o liberal também, são os vilões do planeta, que precisam ser detidos a qualquer custo, até mesmo de sangue. Veja Greta Thunberg, que é a personificação desse levante alógico, despautérico e carente.
Uma vez que há uma linha muito tênue entre a preservação de nosso lar, a Terra, e o crescimento econômico sustentável, cabe-nos construir alternativas viáveis baseadas na concepção de sociedade proposto por Burke, no qual ele dizia que a sociedade é uma união entre mortos, vivos e os que estão por nascer, desse modo, compete aos verdadeiros herdeiros dessa abastada herança honrar o passado, o presente e o futuro, com efeito devemos proteger, conservar e preservar o meio ambiente. Por esse motivo, conservadores têm a obrigação moral e ética de cuidar do planeta, ao passo que fazer algo distinto disso é abandonar toda uma tradição, e submete-se a alternativas tortuosas propostas pela ONU, OMC, China, etc.
Por fim, a degradação ambiental vem da mesma forma que a degradação moral. Através das pessoas e dos lugares representados de maneira impessoal. Como objetos a serem usados em vez de sujeitos a serem respeitados. O senso de beleza coloca um freio na destruição, ao representar seu objeto como algo insubstituível. Para tomar emprestadas as palavras de Roger Scruton em A alma do mundo. valores intrínsecos universais não podem-se separar da realidade. Sejamos genuínos conservadores, não apenas caricaturas baratas de progressistas à modo tupiniquim.
Rodrigo Guimarães é estudante de filosofia, ciência política e literatura.