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Opinião

Por que paz no Atletiba?

Apresença das famílias nos estádios é sinal não apenas de aparatos policiais consistentes e esquemas sofisticados de segurança, mas do comportamento individual

Cada evento negativo que marca o esporte costuma rodar o mundo dependendo de sua intensidade.

Uma pesquisa realizada pela revista Lance, feita pelo Ibope em 2004, constatou que 79% dos torcedores não iam aos campos de futebol em dias de jogo pela falta de segurança. Lamentavelmente, isso em muitos momentos se comprovou pela cenas de violência ocorridas em eventos de esporte, nos quais o futebol paranaense teve também sua participação.

Jogos de futebol sempre foram eventos que reuniram esporte, lazer, alegrias e também possibilitaram geração de emprego e renda nos lugares onde ocorriam. Não apenas isso, mas eram eventos familiares, nos quais pessoas de todas as idades acorriam com a certeza de tranquilidade e emoções sadias, como no grito de gol, na expectativa de um lance de habilidade dos atletas e no clima de animação geral que era e ainda é comum nesses eventos.

Ocorre que o fator violência e insegurança passou a fazer parte também deste cenário, e muitas famílias se afastaram e não mais voltaram. Assim, limitou-se a possibilidade de desfrutar da beleza do esporte a menos pessoas, na suam maioria homens ("que se garantam") e de um número menor de mulheres e crianças, pois o espetáculo que em alguns momentos passou a prevalecer não foi mais do esporte e sim dos palavrões, incivilidades, depredações e até agressões e mortes. Quando caminho pelas ruas de Curitiba à paisana, por vezes ouço, "domingo tem Atletiba, é dia de ficar em casa!".

O futebol no Paraná, felizmente, tem apresentado um declínio ao longo dos anos na questão de violência. Mas ainda não temos a segurança ideal para uma cidade que pretende ser sede de jogos da Copa de 2014, posto que não apenas o número de recursos do Estado – como policiais, viaturas, cavalos e outros –, tem de ser enorme, como pelo fato de esses eventos não conseguirem atrair o mesmo número de famílias como atraía. E esse é o grande termômetro: quantas famílias vão ao jogo? Quantos pais, mães e responsáveis trazem seus filhos e filhas pequenos a um estádio de futebol? Porque a presença das famílias nos estádios é sinal não apenas de aparatos policiais consistentes e esquemas sofisticados de segurança, mas do comportamento individual que as demais pessoas que dele participarão tomarão umas em relação às outras. E isso é uma questão de cultura, respeito e de desenvolvimento social, na qual a sociedade, ao evoluir, se livra da selvageria e da barbárie que são manifestações de povos primitivos. E se o Brasil é um país em desenvolvimento, e que cada vez ganha mais o respeito da comunidade internacional, também na questão de uma cultura social de comportamento civilizado deve acompanhar esta evolução, sob pena de levarmos a pecha de que somos um país de trogloditas em desenvolvimento, pois cada evento negativo que marca o esporte costuma rodar o mundo dependendo de sua intensidade.

Por isso precisamos de paz no Atletiba, pois que junto com a paz, virão as famílias para os campos, cada vez em maior quantidade, virão os turistas, virão os empregos e a renda, virá a alegria e a beleza do esporte, virá a desnecessidade de aplicação de tanto efetivo policial, que poderá ser distribuído em outros horários e locais acarretando benefícios para todos. Que este evento seja um exemplo da real cultura do povo parananense, de respeito e de ordem que sempre fez do nosso Estado, porta de entrada para outros povos e culturas, do Brasil ou do exterior e onde os que aqui chegarem em 2014 para os eventos da Copa, saiam dizendo "faz parte da cultura deste povo a paz no futebol".

Roberson Luiz Bondaruk é comandante-geral da Polícia Militar do Paraná.

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