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Por um planeta que não tem plano B

A 21.ª e mais aguardada edição da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) caminha para o encerramento nesta semana. Mesmo após os atentados terroristas em Paris, quase todos os países têm representação na conferência, sendo que 168 deles (incluindo o Brasil) trouxeram metas de redução dos gases de efeito estufa, reforçando a expectativa de um entendimento global que atenda às necessidades planetárias de frear as mudanças climáticas.

O aumento já observado de quase um grau Celsius na temperatura média do planeta, cientificamente comprovado, é suficiente para que se observe uma maior frequência e intensidade de fenômenos climáticos extremos. A expectativa, agora, é frear esse aquecimento em dois graus Celsius neste século. Para que isso ocorra, calcula-se, todas as emissões de CO2 do mundo terão de ser contidas em 1 trilhão de toneladas/ano. Isso significa cortar entre 60% e 70% as emissões totais até 2060.

É necessário superar o paradigma da conquista, do acumular, do ter, da crença na produção ilimitada e do crescimento econômico infinito

Como afirma o climatologista brasileiro Carlos Nobre (membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, IPCC), para que essa meta seja alcançada cada um de nós terá de emitir até duas toneladas de CO2 equivalente em 2050. Para se ter uma dimensão dessa tarefa, que não será nada fácil, um cidadão norte-americano emite, em média, 18,6 toneladas de CO2; um alemão, 10 toneladas; um chinês, 7,9 toneladas; e um brasileiro, 7,5 toneladas. Para enfrentar tal desafio, todos os países que comparecem à COP 21 apresentam metas. Até 2025, o Brasil deverá reduzir em 37% suas emissões de gases de efeito estufa e, até 2030, em 43%.

É evidente que o sucesso nessa empreitada mundial não depende apenas do compromisso que os governos estão assumindo e ratificarão ao fim desta conferência em Paris. É preciso efetividade por parte dos governos, da sociedade civil e das empresas.

Torna-se imperativo que repensemos o modelo de sociedade em que vivemos. É necessário superar o paradigma da conquista, do acumular, do ter, da crença na produção ilimitada e do crescimento econômico infinito. Precisamos de outra ambição: a de mudar o nosso rumo e descarbonizar a economia mundial. Para que isso ocorra, é necessário que as metas apresentadas pelas 168 nações que respondem por 87% das emissões mundiais sejam reconhecidas e rigorosamente alcançadas; que sejam legalmente vinculantes (transformadas em leis em cada país); que haja rígido monitoramento e transparência global na aferição e avaliações anuais; com mais cooperação e solidariedade; e que tenhamos o compromisso ético de cada um, que se manifesta na vida cotidiana das famílias, das empresas, dos governos e das universidades, na vida no campo e na cidade. Com senso de urgência, de muita urgência.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), cuja discussão começou na Rio+20 e se encerrou como fase de elaboração em agosto deste ano, constituem nosso plano A, um importante ponto de partida, e uma referência para a adoção de novos valores, comportamentos e atitudes, novos padrões de produção e consumo que nos permitam superar o desafio que as mudanças climáticas nos impõem.

Infelizmente, o planeta não nos oferece um plano B. Ou reduzimos as emissões de gases de efeitos estufa, ou reduzimos. Ou mudamos, ou mudamos.

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