Como educadora, investidora-anjo e reitora de um centro universitário, faço parte de um grupo de instituições que trabalham com inovação universitária no Brasil, ligadas ao consórcio Sthem, que busca ampliar a qualidade da educação na América Latina. Em março fizemos uma viagem de estudos para Monterrey, no México – referência mundial da educação inovadora, tecnológica e transformadora.
Tivemos uma semana inteira de imersão no programa da equipe que implementou as mudanças do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey (TEC Monterrey) nos últimos dez anos. Foi uma dinâmica entre pares: de uma instituição de ensino para outra, de uma equipe gestora para outra. Para nós, foi muito proveitosa a possibilidade de entrar em contato com profissionais da universidade, focados na prática, nas formas de se estruturar e nos principais pontos desse projeto, que já se estende para práticas no metaverso, onde nosso grupo de 40 educadores ganhou um espaço próprio para trabalhar. Toda a reitoria e os pró-reitores da TEC estavam presentes, apresentando áreas de atuação que, por si só, são inovadoras, como educação continuada, relações com mercado e vivência universitária. Sim, lá existe um pró-reitor que se dedica a proporcionar melhores experiências aos alunos no ambiente universitário!
Monterrey é uma cidade muito desenvolvida, industrializada, limpa e organizada, com alto nível de educação. Vimos uma universidade que muito se assemelha aos melhores campi dos Estados Unidos e da Europa. A realidade mexicana torna possível estabelecer um acordo de parceria para os universitários brasileiros, também pela facilidade com que nos comunicamos em português e espanhol.
Um dos primeiros passos do modelo do TEC Monterrey sugere que se faça uma semana de atividades intensa de práticas com os alunos, com conteúdo vinculado ao currículo dos cursos, mas sem aulas. Esse foi o início do modelo de ensino do TEC, replicado pelo mundo. Eles repassam atividades prévias para que os alunos cheguem às aulas preparados, numa espécie de construção do conhecimento prático. Pedagogicamente, pode-se dizer que este seria um modelo construtivista, sob o aspecto de que o aluno constrói seu conhecimento e sua vivência com aquele conteúdo, de forma mais livre, mas sempre acompanhado pelo professor.
Além disso, é preciso conciliar as competências técnicas e comportamentais. Não podemos formar pessoas que trabalhem apenas o aspecto técnico, sem desenvolver em conjunto sua criatividade e as demais competências. Nas disciplinas de projetos que vêm do mercado, e nos desafios propostos – em Monterrey, a mudança já começa pelo aspecto semântico, com ensino baseado em “desafios” e não em problemas –, há também outras iniciativas que surgem nas Semanas TEC, com questões sociais e de bem-estar. E o entendimento do papel de cidadão, de como se articula o conhecimento de forma ética em benefício da sociedade, em uma formação mais ampla.
O modelo educacional de uma universidade é seu coração. Vivemos um momento em que esse coração precisa ser revisitado, pois passamos, ao longo dos últimos anos, por mudanças disruptivas, que criaram um novo modelo de sociedade e de relações sociais, econômicas e de geração de conhecimento.
Sabe-se hoje que a aprendizagem ligada à prática profissional é mais significativa, que o mundo do trabalho é multidisciplinar, que mais valem as competências construídas do que as notas obtidas e que as instituições precisam oferecer programas educacionais mais flexíveis.
São quatro os pilares que fazem do projeto pedagógico do TEC Monterrey um modelo para se desenvolver as competências do século 21, permitindo que cada aluno forme sua experiência de maneira única e singular: educação baseada em desafios; professores inspiradores; flexibilidade e autonomia curricular; e vivência memorável.
O que se faz na universidade vai além do que é ensinado nas disciplinas. É preciso um perfil ético e comportamental que deve fazer parte desse projeto de se fazer a universidade: um técnico que se aplica à sociedade. E as tecnologias, realidade virtual, inteligência artificial e ferramentas são aplicadas a toda essa proposta, mas sem se limitar ao uso tecnológico.
Um aprendizado que precisa ficar “cravado” na cabeça de todo o gestor educacional: o processo de mudança leva tempo (muito tempo). Não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Uma jornada que parte da decisão da alta liderança da organização, mas que não se sustenta se não for compartilhada e construída com e por todos.
No caso do Modelo TEC 21, o marco inicial foi a decisão do Conselho Diretivo, em 2012, de continuar elevando a qualidade acadêmica da universidade. A partir daí, a cada ano, novos marcos, com ampla consulta a professores, alunos, egressos e empregadores. Ou seja, um processo longo de construção compartilhada e que hoje gera orgulho aos membros da comunidade do TEC Monterrey. Claro que não foi um processo fácil: já sabemos que temos aqueles que se juntam rapidamente aos processos de inovação e outros que vêm depois ou que não embarcam. Foi assim no TEC... e é assim em nossas instituições de ensino superior.
Nosso entendimento do projeto educativo do TEC Monterrey traz a convicção de que uma transformação bem-sucedida é fruto de uma visão inspiradora, de planejamento, da criação de uma cultura que gere os resultados esperados, do envolvimento e comprometimento de todos os envolvidos no processo educacional, dentro e fora da universidade. E que também é resultado da clareza do papel e do propósito da instituição. Essa clareza é muito importante para a definição da transformação, pois para cada universidade, para cada propósito, há um desenho de transformação.
A aplicação do conhecimento na prática e um time de professores com experiência de mercado, por exemplo, devem ser sempre a tônica das instituições de ensino que buscam transformar a educação superior em nosso país. Estamos – e sempre estivemos – em uma constante busca de caminhos para inovar nossa oferta de valor para nossos alunos, para as empresas e para a sociedade.
A troca de experiências deve ser fomentada, para que possamos traduzir o modelo TEC 21 para a realidade das instituições brasileiras de ensino superior, já que essa não é uma tarefa do tipo “copie e cole”. Há de se fazer uma leitura do contexto da instituição, dos seus desafios, das necessidades dos seus alunos e da região em que está inserida para desenhar o seu modelo educacional.
Adriana Karam é professora, investidora-anjo e reitora do Centro Universitário UniOpet.
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