É muito recente o discurso da eqüidade entre gêneros e, apesar dos avanços da consciência mundial sobre direitos humanos, justiça e igualdade de direitos entre os sexos, o modelo de mundo que nos foi apresentado privilegia a idéia de supremacia dos homens em relação às mulheres.
A escola, enquanto instituição social, construiu sua história a partir de um modelo diferenciado de educação entre homens e mulheres. De escolas exclusivamente masculinas e/ou femininas, para escolas mistas onde meninos e meninas estudavam em salas separadas. Foi a partir da década de 70 que as classes mistas ganharam espaço, primeiramente nas escolas públicas. O magistério, à época, preponderantemente feminino, iniciava o desafio da universalização do conhecimento, nem sempre possível. Nas aulas de Educação Física, por exemplo, em sua concepção militarista de domesticação dos corpos, um professor atendia os meninos com esportes mais competitivos enquanto uma professora cuidava das atividades consideradas apropriadas para as meninas.
Com o tempo isto mudou, mas nem tanto, pois ainda é muito pequeno o trabalho educativo na perspectiva de gênero, fazendo da educação um processo democrático, de formação de cidadania que contribua para a superação dos preconceitos e estereótipos que impedem meninos e meninas crescerem comprometidos(as) com seus direitos iguais.
Muitas vezes as salas mistas devem ter comprometido este processo, na medida em que reforçaram a divisão entre sexos na chamada, na fila, no comportamento, nas atividades, na hora do recreio, na comparação de desempenhos, nas manifestações de sensibilidade, nas piadas e nas punições.
Lembro-me, e não faz muito tempo, que um menino, ainda pequeno, manifestou à sua mãe a vontade de ser menina. Questionado sobre o motivo, afirmava que os meninos eram freqüentemente responsabilizados pela "bagunça" e ficavam sem o recreio na escola.
Mesmo assim, acredito que as turmas mistas devem ser a melhor forma de organização dos espaços de aprendizagem na escola. A diversidade é a principal característica do mundo pós-moderno. É desta forma, em sociedade, que aprendemos a ser mulheres e homens em suas diferentes nuances de personalidade, de etnias, de reações e relações, de sexualidades, de infâncias e juventudes. É na relação entre mulheres e homens que se constroem os valores do respeito, da tolerância, de identidades, quebrando as relações hierárquicas de submissão que têm feito com que as diferentes formas de violências se estabeleçam e passem a ser o indicador social das sociedades humanas.
Sou favorável a uma educação não-sexista, que promova a igualdade de oportunidade entre meninos e meninas para que se tornem protagonistas na construção de uma nova sociedade, mais justa, mais humana, mais solidária. Entendo que há especificidades do masculino e do feminino, assim como tenho ciência de que essas podem se fazer presentes em meninos e meninas. Portanto, nada mais oportuno que ambos se conheçam, interajam e se responsabilizem por um outro modo de convivência.
Acredito que a educação não-sexista é essência da educação preventiva integral e deve, no ensino fundamental, manter o modelo já iniciado na educação infantil onde crianças convivem entre si, sem a separação de grupos por sexo.
Professores e professoras são os importantes mediadores(es) nesta tarefa educativa de libertarem homens e mulheres de viverem aprisionados em mundos divididos entre padrões rígidos de comportamentos ou estereótipos que os(as) impedem de ser naturais.
Ninguém sai ileso(a) de uma relação. Façamos desta o diferencial de humanidade.
Araci Asinelli da Luz é doutora em Educação e professora do setor de Educação da UFPR.
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