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| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Brasil precisa de professores. Mais do que militares, mais do que militantes, mais do que advogados, mais do que médicos, mais do que engenheiros.

O Brasil precisa aprender. Precisa aprender o idioma da sua história, o que Bandeira falava para o brasileiro quando escreveu o poema O bicho, o que Drummond queria nos contar quando disse ao nosso povo “os lírios não nascem da lei”.

Precisa aprender qual idioma falava sobre o ouro que era nosso, que idioma falavam as matas que foram silenciadas, qual idioma falava o índio antes de aprender a falar. O idioma da fome e o da fumaça da pedra – os dois adentraram o nosso caminho.

O Brasil precisa aprender para ensinar os filhos que nascerão desta terra

Precisa aprender qual o idioma dos olhos que olham para a cor da pele, qual idioma dos olhos que olham para o corpo, qual o idioma do medo que nós temos uns dos outros. Qual idioma vende a droga, qual o idioma compra a propina, quais idiomas batem os martelos. Precisa aprender o idioma do ferro que cercou a Amazônia, o do tanque que cercou o Planalto, o do veneno que matou Mariana e Marielle. O idioma das correntes que libertaram os escravos, o dos ventos das caravelas, e o do lixo que cata o professor para poder comer.

O Brasil precisa aprender para ensinar os filhos que nascerão desta terra.

Eles não precisarão de um futuro. Precisarão de um passado. Quando o brasileiro aprendê-lo, ele passara a existir. Não basta colocar a palavra “não” na frente de um enunciado histórico para transformar a realidade – Saramago já o fez.

Contra as reformas ortográficas: A aposta na instabilidade (artigo de Diogo Fontana, publicado em 28 de maio de 2018)

Leia também: A corrupção brasileira (artigo de Rafael Salvi, publicado em 14 de junho de 2017)

O Brasil não é nosso. Ele é da cor de todas as nacionalidades que se apossaram do país lindo por natureza: preta – como o petróleo e o luto. O país que mais saqueia no mundo foi o pais mais saqueado do mundo. O país mais humilhado do mundo grita nos tabloides europeus, “nossos professores estão sendo humilhados”. Nos fale sobre ironia, Machado de Assis.

Ensinem as crianças os idiomas da nossa diversidade, e nós teremos crianças que finalmente saberão ler o português brasileiro. E os outros idiomas lerão a nossa história escrita por eles. Precisamos de professores. E os professores precisam de nós. Chega de ensinar ao mundo o que é não ensinar um povo.

Guilherme Bacchin é escritor.
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