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Vista do Porto de Santos.
Vista do Porto de Santos.| Foto: Pedro Cavalcante / SPA

O mundo iniciou a terceira década do século XXI com uma pandemia global. Além das lamentáveis mortes que impactaram lares em todo o planeta, bagunçou cenários, redefiniu papeis globais e provocou, em todas as nações, uma necessidade de realinhar estratégias e acreditar na possibilidade de um novo patamar nas relações internacionais. E isso impacta também na infraestrutura portuária de todo o mundo.

O Brasil, como maior economia da América Latina, não pode assistir passivamente essa movimentação de peças no tabuleiro mundial. Temos um potencial enorme para nos colocar como players importantes neste novo momento. Internamente temos um mercado consumidor robusto, um agronegócio que é destaque internacional, a possibilidade de investir em uma economia verde e sustentável a partir dos recursos da nossa Amazônia.

Não podemos ficar reféns daqueles poucos que buscam, de olho no passado, na vanguarda do atraso, garantir reservas de mercado, criando barreiras de entrada.

Como ensina a série de sucesso Grey´sAnatomy, a hora da morte não é quando o paciente morre de fato, mas quando os médicos dizem que não podem mais fazer nada para mantê-lo vivo. No caso do Brasil, não há de se falar em hora da morte para o crescimento econômico, pois podemos fazer muito. Temos totais condições de aproveitar nossas potencialidades. Mas isso não acontece por milagre ou por obra do acaso. Em relação à infraestrutura portuária, é preciso investir em planejamento e buscar mais eficiência. Não podemos dizer que tudo vai se resolver pelo simples fato de “Deus ser brasileiro”. Ainda mais neste momento, em que o papa é argentino.

As brincadeiras servem para dar leveza a um debate que precisa ser travado de maneira séria. E isso foi feito no encontro SummitPortos 2022, realizado no início deste mês de setembro, em Brasília. Elencamos todas as nossas potencialidades internas, mas isso pouco adianta se os portos, porta de entrada e saída de praticamente todos os produtos e mercadorias que circulam pelo país, não estiverem preparados para esse novo momento. E sabemos, pelas nossas condições atuais, que essa realidade ainda é um sonho e que temos muito a fazer quando se trata de infraestrutura portuária nacional.

Maior porto da América Latina, o Porto de Santos está no limite de sua operação. A demanda de contêineres atual é de 90% da capacidade total. Pode piorar, já que a perspectiva original é de um crescimento de movimentação na ordem de 6% a 6,5% anual. Só neste ano de 2022, com a retomada da economia global – ainda impactada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, é bom salientar – o crescimento do primeiro semestre já atingiu 7%. Essa conta não vai fechar muito em breve.

Como estaremos em 2030, ao fim desta década e início da próxima? Para respondermos a isso e encontrarmos tranquilidade e efetividade como resultado final, temos de aprender a planejar o próprio futuro. E isso não é uma tarefa de governo, é uma tarefa de Estado. Precisamos nos planejar como país e como iniciativa privada.

Alguns podem dizer que quanto mais opções de portos tivermos, melhor, que o mercado acaba organizando-se por si só. Isso não é verdade pura e simples. Não adianta termos muitas opções se formos ineficientes. Para isso, os nossos órgãos reguladores, que têm uma excelência técnica indiscutível e mundialmente reconhecida, precisam agir com firmeza para garantir a segurança jurídica e a livre concorrência acima de tudo. Só assim vamos atrair players competitivos.

Não podemos ficar reféns daqueles poucos que buscam, de olho no passado, na vanguarda do atraso, garantir reservas de mercado, criando barreiras de entrada. Aliás, aproveito para parafrasear o meu amigo professor dr. Agripino. Ele disse outro dia que "alguns querem o fechamento dos portos às nações amigas... Isso em 2022 representa apenas um retrocesso de 214 anos. E a isso eu chamo de ‘vanguarda do atraso’”.

Se surgirem dúvidas sobre os impactos de novos investidores no Brasil, basta ver como eles atuam no cenário internacional. Se são predadores de fato, como muitos são acusados injustamente, ou se agem dentro das normas vigentes de boas práticas comerciais e concorrenciais. Se agirem dentro da legalidade, devemos confiar na capacidade dos nossos órgãos reguladores para definir as regras de disputa, sem medo ou queixas pré-existentes. Há mecanismos, técnicos e instituições fortes e prontas para atuarem no caso de irregularidade.

Devemos acreditar no Brasil e fazer a nossa parte. As empresas que atuam no setor querem investir, gerar empregos, crescer e ajudar o país a se tornar mais competitivo. E para isso uma infraestrutura portuária eficiente é fundamental. Não estamos diante da hora da morte, como nos mostra a série norte-americana sobre medicina. Estamos sim, na hora da vida, diante da oportunidade de colocar o Brasil frente aos mercados mundiais e construir um lugar melhor para todos os brasileiros. Nós acreditamos no Brasil.

Patricio Junior é diretor de Terminais e Investimentos na TIL Group.

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