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O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes.| Foto: Marcos Correa/PR

Observamos uma piora nas expectativas dos agentes econômicos nas últimas semanas, com efeitos claros sobre a bolsa de valores do país. A deterioração das expectativas é ruim para a retomada econômica, pois prejudica investimento e consumo, reduzindo a demanda, as vendas, a produção de bens e serviços e, portanto, a geração de empregos e renda.

Os elementos que ajudam a entender essa dinâmica das expectativas, pelo lado econômico, são o possível aumento dos recursos destinados ao novo Bolsa Família, o valor elevado dos precatórios, o aumento da inflação e, como consequência, dos juros, um possível racionamento de energia elétrica, além da pandemia e mudanças no cenário internacional.

Em relação aos valores do novo Bolsa Família e dos precatórios, os efeitos sobre as expectativas trazem à tona a falta de capacidade ou vontade do governo Bolsonaro em tocar reformas relevantes para o controle dos gastos públicos. O teto de gastos por si só não para em pé. Ele foi introduzido para “forçar” uma agenda de reformas que levasse as contas públicas para o equilíbrio a partir do controle dos gastos públicos. Após a reforma da Previdência, praticamente nada foi feito no sentido de realizar mudanças estruturais para o controle dos gastos públicos, um dos principais pontos fracos da economia brasileira no curto e médio prazo.

O possível racionamento de energia mostra que há falta de planejamento de vários governos, pois, com uma matriz voltada para geração hidroelétrica, é natural que ocorra uma exposição em períodos de seca como o atual. A matriz energética vem se alterando de forma que o país fique menos dependente de uma única fonte geradora, mas poderíamos ter avançado mais.

O problema inflacionário está relacionado a fatores externos, como aumento do preço de algumas commodities, da escassez de energia elétrica, como apontado acima, problemas em parte das cadeias produtivas globais, além da variação cambial. No entanto, elementos internos como o não ajuste das contas públicas também influenciam os preços. Adicionalmente, a variação cambial é fruto das incertezas geradas sobretudo internamente.

As principais economias do mundo começam a enfrentar problemas de crescimento com a nova onda da Covid-19 e pelo aumento dos preços que já afetam sua política monetária, mas o cenário externo ainda se mostra favorável para a nossa economia. No entanto, não sabemos até quando.

Os desafios apresentados anteriormente são decorrentes, sobretudo, da falta de fazermos a lição de casa. Uma agenda de reformas no sentido de controlar os gastos públicos e aumentar a eficiência da economia brasileira são elementos-chave para que o país possa crescer de forma sustentável. Infelizmente, pouco foi feito nesse sentido e não há expectativas de que algo seja feito até o fim de 2022.

Para piorar o cenário, o nosso presidente, em seu tom beligerante, sobretudo com o Poder Judiciário, tem criado mais incerteza sobre o futuro do nosso país. Difícil entender tal estratégia que tem afetado negativamente o desempenho econômico brasileiro, um dos poucos trunfos que o presidente poderia ter nas eleições de 2022, a não ser que ele esteja prevendo um cenário eleitoral difícil e esteja, de fato, planejando ficar no poder a qualquer custo. Democracia acima de tudo!

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor associado da Fearp/USP e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia da Fearp/USP.

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