“Por que os economistas são tão pessimistas e falam tanto em crise?”, foi o que me perguntou um amigo dias atrás. Respondi que a questão não é ser otimista ou pessimista, que são atributos emocionais, mas do objeto sobre o qual o profissional trabalha. Imagine um detetive da delegacia de crimes hediondos. Ele faz análise sobre violência, crimes bárbaros e seres humanos monstruosos. Ou um médico legista, cujo trabalho é dissecar cadáveres para encontrar vestígios no corpo humano na busca de solucionar crimes. Todos tratam de assuntos mórbidos, e o economista, conforme o país analisado, também.
Os assuntos econômicos no Brasil, que é um país pobre e cheio de distorções, nem sempre são agradáveis e auspiciosos. Os economistas da Dinamarca são bem mais alegres, pois lá a economia é saudável, não há desemprego, o padrão de vida é elevado e não há pobres. Já os economistas da Venezuela não têm como fugir de falar de desgraças humanas, pois o país está se esvaindo em fome, doença, miséria e fuga de sua população, sob um governo truculento e ditatorial.
O ano de 2018 termina com alguma esperança para o Brasil, seja porque a recessão foi contida, o PIB começa a se recuperar e as eleições promoveram não somente a troca de governantes, mas a substituição de governos de esquerda por um governo de direita. O rodízio de liderança faz bem à democracia. Mas, a economia não dá saltos. O crescimento é lento. Após a recessão que fez o PIB cair 3,5% em 2015 e repetir a mesma queda em 2016, sequelas teriam de ficar, e aí estão: desemprego, desequilíbrio nas contas do governo, aumento da pobreza, aumento da violência, além de outros.
Para voltar a ter a mesma taxa de desemprego de 2014 (6,8%) daqui a cinco anos, o país teria de crescer a 4% ao ano
O mais recente boletim Focus do Banco Central informa que o PIB pode crescer 2,5% em 2018, o que é bom, mas ainda é pouco. A essa taxa de crescimento, a volta do nível de emprego existente antes da crise levará 10 anos. Para voltar a ter a mesma taxa de desemprego de 2014 (6,8%) daqui a cinco anos, o país teria de crescer a 4% ao ano. É um desempenho difícil, e improvável. Porém, para não dizer que não falei das flores, há alguns fatores positivos no cenário.
O primeiro se refere ao desempenho do setor do agronegócio, que envolve a agricultura, a pecuária e toda a cadeia industrial e de transporte. Está sendo prevista nova safra recorde de grãos e boas perspectivas para as exportações. Embora tímida, a taxa de processamento industrial das matérias-primas deve crescer. O Brasil precisa estimular a abertura de empresas para agregar valor aos produtos primários, inclusive facilitando a entrada do investimento estrangeiro direto.
O segundo fator positivo é o desenho de nova política de inserção no mercado internacional e elevação do quociente de comércio exterior. Ou seja, é necessário aumentar o volume de exportações e o volume de importações, pois ao comércio seguem-se os investimentos, e aos investimentos segue-se a absorção de tecnologia. Entretanto, a nova política externa brasileira requer considerar a noção de proporção no estabelecimento de tarifas e barreiras não tarifárias.
Opinião da Gazeta: O Brasil que Temer recebeu e o que ele entrega (editorial de 23 de dezembro de 2018)
O país não pode ser ingênuo de praticar o liberalismo em sua relação econômica com o resto do mundo se os demais países não fizerem o mesmo. Dizendo de outra forma, ou todos eliminam o protecionismo ou não dá para o Brasil simplesmente abolir todas as tarifas de comércio internacional. O terceiro fator de esperança para o Brasil está na importação de tecnologias modernas. Na era da inteligência artificial e dos robôs cognitivos, é preciso pressa na absorção de tecnologias estrangeiras, e o novo governo tem dado sinais de que vai seguir nesse rumo.
Por sua condição de pobreza, o Brasil tem uma vantagem curiosa: se o país crescer e dobrar a renda por habitante em 25 anos, surgirá uma multidão de empregos no setor terciário (comércio, transporte, saúde, educação, lazer, turismo e serviços pessoais), que serão bem-vindos para substituir os empregos perdidos com a incorporação de tecnologias modernas. Ou seja, haverá um leque de oportunidades que já não estão disponíveis em países de renda elevada. Mas isso é tema para outro artigo.