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Estamos com cacife suficiente para pedir e reivindicar obras e investimentos de que estamos falando há décadas. Temos cacife, mas não temos projetos

Em matéria de prestígio político federal, o Paraná está como nunca esteve. Três ministros, vários dirigentes de segundo escalão, acesso fácil aos círculos mais íntimos do Poder Federal. Estamos com cacife suficiente para pedir e reivindicar obras e investimentos de que estamos falando há décadas. Temos cacife, mas o que não temos é projetos.

Falo de projetos mesmo, de estudos detalhados e abrangentes e não de meros "estudos de pré-viabilidade" e pré-projetos que não permitem uma avaliação correta de riscos, de alternativas de execução e de custos; muito menos de estudinhos feitos em poucos dias ou semanas apenas para substanciar alguma nova ideia dos governantes ou para municiar uma campanha publicitária.

Precisamos urgentemente de um porto moderno, não é verdade? Sim. Temos projetos para construí-lo ou pelo menos para iniciar as obras de maneira responsável? Resposta: não. Precisamos da nova ligação ferroviária para Guarapuava para reduzir o gargalo atualmente existente; mas não temos sequer um estudo comparativo sério e abrangente das duas opções possíveis, muito menos, projetos de execução. Como também adiantará pouco simplesmente trazer o estrangulamento ferroviário para Curitiba e depender da ligação ferroviária do Século 19 com o litoral, precisamos projetar uma nova estrada de ferro que substitua a dos Irmãos Rebouças feita há quase 130 anos. Projeto? Neca.

Em qualquer área, a mesma coisa. A prateleira de novos projetos rodoviários está vazia, como está a de projetos urbanos de grande monta. O metrô de Curitiba é uma ficção dupla: primeiro porque, pelo andar da carruagem, nunca conseguirá vencer a antipatia ou a apatia do Ippuc; segundo porque, apesar do apoio declarado do governador e do prefeito, em matéria de projeto estamos ainda no Primeiro Dia da Criação.

De projetos administrativos, nem falar. O que o governo estadual acabou de fazer, juntando secretarias e ampliando cargos em comissão, não pode ser minimamente caracterizado como uma reforma administrativa, de que aliás estamos urgentemente precisando para fazer exatamente o contrário, que é diminuir o número de cargos comissionados e eliminar dezenas de penduricalhos administrativos obsoletos ou inúteis. Nossa última lei de reforma, a 6.636/74, foi concebida durante o governo Emílio Gomes e implantada durante o governo Canet, 36 anos atrás.

Parigot de Souza foi o grande exemplo nessa área. Acostumado à disciplina do setor elétrico brasileiro, em que a existência de uma prateleira repleta de projetos era uma coisa corriqueira, quando assumiu a governança, escandalizou-se com a absoluta falta de planejamento e de projetos de engenharia. Com a determinação granítica que era seu traço dominante de caráter, empenhou-se em corrigir essa lacuna e assim, a par de criar a estrutura do sistema estadual de planejamento, exigiu das diversas áreas o imediato detalhamento das ideias, a contratação de milhares de quilômetros de projetos finais de engenharia rodoviária, o detalhamento do projeto de Foz do Areia, e por aí afora. Não faltaram as críticas à "inação" do governo e apelos para que o professor Parigot parasse com tanto planejamento e passasse ao fazejamento. Graças, em boa parte, à "inação" de Parigot é que quando Jayme Canet Junior assumiu o governo em março de 1975, foi capaz de fazer o governo que fez, empregando sua enorme energia pessoal e sua capacidade gerencial para comandar o maior programa de investimentos em infraestrutura de toda nossa história.

Há 50 anos, Ivo Arzua Pereira, com o auxílio da perspicácia política de Affonso Camargo Netto, cunhou uma frase para derrotar seu adversário na disputa pela prefeitura de Curitiba: "Mais Ação e Menos Conversa!" Agora, meio século depois, está na hora de abandonar décadas de negligência e de apatia e bradar: Mais Projeto e Menos Promessa!

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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