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Precisamos de heróis

Plenário do Senado Federal durante sessão especial destinada a homenagear os 100 anos de nascimento do almirante Paulo de Castro Moreira da Silva. rrEm posição de respeito, parlamentares e convidados acompanham execução do Hino Nacional pela Banda dos Fuzileiros Navais de Brasília. rrFoto: Pedro França/Agência Senado (Foto: Pedro França/Agência Senado)

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Em praticamente todas as áreas da atividade humana, grandes profissionais têm sempre uma ou mais referências de personalidades de destaque, que os inspiram e sinalizam o caminho a seguir em suas jornadas rumo ao sucesso e à realização pessoal. A inspiração é uma das mais nobres molas da ação humana, que nos brinda com o entusiasmo e a energia que nos impulsionam a agir com correção e determinação, permitindo-nos superar dificuldades e realizar grandes feitos.

A Marinha do Brasil possui atribuições de grande responsabilidade e se incumbe de tarefas complexas, exigentes e arriscadas que, na maioria das vezes, demandam grande esforço dos abnegados patriotas que as desempenham. Ao exaltar os sucessos, sacrifícios, bons atributos e o comportamento exemplar de seu pessoal, a Marinha busca ser uma instituição meritocrática e fornecer, aos homens e mulheres que a integram, fontes de inspiração perante o chamamento do dever.

Muitos são os exemplos de personalidades navais que se enquadram nesse intento, sendo a maior delas a do “Velho Marinheiro”, Joaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré, cuja memória reverenciamos a cada dia 13 de dezembro, sua data natalícia, consagrada, no Brasil, como o Dia do Marinheiro. Tendo, aos 15 anos de idade, se apresentado como voluntário para servir à recém-criada Esquadra, incumbida de combater as forças lusitanas que se opunham à independência do Brasil, o Almirante Tamandaré atuou com destacado denodo em alguns dos mais importantes episódios do decisivo século 19, no qual nosso país se consolidou como a grande nação que é.

Careço de espaço para narrar aqui os abundantes e digníssimos feitos, atitudes e atos de heroísmo do “Velho Marinheiro”, mas afianço que, ao se debruçar sobre a sua biografia, qualquer um se convencerá da justeza de ser Tamandaré o patrono da invicta Marinha do Brasil, o mais forte lampejo a iluminar nosso proceder. Acredito que, ao termos como propósito a contínua construção de uma Marinha que esteja à altura dos exemplos do seu patrono, estamos dando grande contribuição ao Brasil, oferecendo-lhe uma força naval capaz de defender seus vitais interesses no mar e em suas águas interiores, provendo-lhe a segurança necessária para o seu desenvolvimento.

A inspiração é uma das mais nobres molas da ação humana, que nos brinda com o entusiasmo e a energia que nos impulsionam a agir com correção e determinação.

Destaque-se que 95% do nosso comércio exterior se dá por via marítima e 97% das nossas comunicações com o mundo são feitas por cabos submarinos. Da nossa Amazônia Azul são extraídos mais de 95% do petróleo, 80% do gás natural e 45% do pescado produzidos no país. Além disso, nesse mar que nos pertence, a biodiversidade e outros recursos minerais marinhos representam auspiciosa reserva econômica estratégica para as atuais e as futuras gerações de brasileiros.

Por isso, seguimos de forma obstinada com o preparo do nosso poder naval, conduzindo ousados projetos, tais quais a construção de submarinos com propulsão nuclear; investindo em pesquisa e desenvolvimento tecnológico; e procedendo a modernização e a manutenção do aprestamento de nossos meios operativos e da capacitação do nosso pessoal. Nesse aspecto, é importante registrar a imensa contribuição ao país dada pelos projetos estratégicos do setor de defesa. A Base Industrial de Defesa e Segurança será responsável, em 2021, por exportações da ordem de US$ 2 bilhões e pela geração de 2,9 milhões de empregos de qualidade para os brasileiros. Mas não paramos aí. Na busca permanente pela excelência na gestão, aprimoramos processos, a fim de racionalizarmos ao máximo a alocação dos recursos de que dispomos. O sistema para otimização do orçamento, que implementamos em 2021, nos trouxe uma economia de cerca de 15%. Em termos práticos, economizamos R$ 150 milhões a cada bilhão de investimento, o que nos possibilita fazer mais com aquilo de que já dispomos.

Protegendo as nossas riquezas, empregamos nossas forças navais em benefício do país, operando em conjunto com as demais Forças Armadas, e também com agências nacionais e internacionais, no enfrentamento a crimes ambientais e transfronteiriços, a exemplo da Operação Verde Brasil 2, voltada ao combate a ilícitos ambientais e a focos de incêndio na Amazônia Legal e que teve como expressivo resultado a apreensão de 506 mil metros cúbicos de madeira, 2.131 embarcações, 990 veículos e tratores, 751 quilos de drogas e 123.565 armas e munições, além da extinção de mais de 16 mil focos de incêndio.

De igual forma, apoiamos a nossa política externa, atuando sobretudo em nosso entorno estratégico, como no incentivo à Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul; ou participando de operações em prol da segurança marítima em regiões que demandam atenção, a exemplo do irmão continente africano.

Cuidando da nossa gente, agimos em prol da preservação da vida, da saúde e do bem-estar dos brasileiros, como na promoção da segurança da navegação e da salvaguarda da vida humana, fiscalizando embarcações, provendo os navegantes com informações seguras e conduzindo operações de busca e salvamento no mar e em águas interiores. Em 2021, a nossa Marinha participou de cerca de 277 operações de busca e salvamento (SAR) em mares, rios e lagos, tendo resgatado com vida 675 pessoas. A área SAR brasileira totaliza uma imensidão de mais de 14 milhões de km².

Com igual afinco, dedicamo-nos a levar assistência médica e odontológica a comunidades ribeirinhas isoladas na região amazônica e no Pantanal, por meio dos nossos “Navios da Esperança”. Somente neste ano foram mais de 13 mil atendimentos médicos e odontológicos prestados a brasileiros que muitas vezes encontram na Marinha o único meio de acesso aos serviços oferecidos pelo Estado. Também prosseguimos na tarefa de ajudar o país a enfrentar a Covid-19, atuando simultaneamente em várias frentes, como no transporte de oxigênio e fornecimento de respiradores para as regiões mais afetadas ou no apoio ao Plano Nacional de Imunização, operando postos de vacinação e transportando vacinas e agentes de saúde em nossas embarcações e aeronaves.

Mas nenhuma dessas, e tantas outras, realizações seria possível sem o nosso pessoal, que é o nosso maior patrimônio. Daí a nossa incessante busca por melhores condições de vida e trabalho para todos os integrantes da Marinha e pela meritocracia em nossas fileiras. Foi esse o propósito da aprovação da Lei 13.954, que reestruturou aspectos da remuneração dos nossos militares, no intuito de valorizar aqueles que mais se dedicam ao serviço e que investem no estudo e no crescimento profissional.

No próximo ano, nossa invicta Marinha completará 200 anos, junto com o Brasil Independente, cuja grandeza e integridade foram garantidas por nossos antepassados, a exemplo do Almirante Tamandaré. Certamente, os méritos do nosso patrono continuarão a nos inspirar e incentivar, em nossa labuta diária, em prol desta instituição tão admirada pelos brasileiros e que pertence a cada cidadão que confia e tem orgulho da sua Marinha. Guiados por Tamandaré, continuaremos sentindo a satisfação do trabalho bem-feito e da missão bem cumprida; na certeza de que fazemos história, ao contribuirmos diuturnamente para a construção de uma Marinha a cada dia melhor e mais capaz, amada e respeitada pelos brasileiros. Tudo pela Pátria! Viva a minha, a sua, a nossa Marinha do Brasil!

Almir Garnier Santos é almirante de esquadra e comandante da Marinha do Brasil.

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