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O que há de comum em cada cidadão brasileiro atualmente é o senso de perda da capacidade de determinar sua própria vida e de fazer as suas próprias escolhas, exercer o autogoverno. Cada família vive uma completa solidão, de maneira que os ideais constitutivos do Brasil se diluíram de tal maneira que podemos até afirmar que tenham desaparecido.
Para o homem comum, a realidade se apresenta de forma absolutamente abstrata e suas escolhas não implicam em atos concretos que se materializam na vida do indivíduo, muito pelo contrário. Em prol de uma suposta consciência coletivista, o brasileiro se sente um fantasma isolado, imerso em aflições. Ele é levado a aceitar ideias e práticas que não concorda, que não acredita e que, no fundo, condena, impostas por um grupo que crê que possui a consciência da coletividade, o próprio bem comum.
Perdemos a capacidade de ditar o rumo das nossas vidas e da nação, esse corpo social cujos membros estão unidos pela origem, costumes, aspirações em comum. Como nação, também deveríamos ser herdeiros não apenas do solo nacional, com suas riquezas, mas também do exemplo dos antepassados, de seus feitos gloriosos, da história, da religiosidade, dos costumes, dos hábitos sociais, da arte, da literatura e do folclore.
O Estado, que deveria ser a instituição organizadora da vida pública e da política, tornou-se um instrumento de coerção capturado, instrumentalizado por ideias progressistas autoritárias e homogêneas em todos os campos possíveis, como a economia, educação, soberania e até nossa alimentação.
Atualmente, não podemos escolher a educação dos nossos filhos; ela é determinada por órgãos externos, alguns internacionais, que escolhem os objetivos, as metas, os métodos e até mesmo a qualidade de ensino que estarão disponíveis. Há controle sob todas as etapas do sistema educacional e, sem qualquer restrição moral, nossos filhos acabam por pertencer ao Estado ou mesmo a organizações transnacionais.
A consequência de uma política educacional medíocre, planejada para formar mão de obra barata, desemboca na economia, onde a maioria da população brasileira se adequa a uma visão de mundo mecanicista, tornando-se uma peça utilitária de engenharia social, sem realmente poder escolher seu trabalho e campo de atuação. Somos obrigados a viver com o que aparece, o que resulta em um país incapaz de produzir ativos com valor agregado, e de aumentar sua competitividade e prosperidade.
Em duras palavras, o filósofo belga Michel Shooyans diagnostica o pobre contemporâneo como um ser prefigurado por políticas progressistas em uma sociedade diluída em duas modalidades: simbiótica ou parasitária. O parasitário depende de políticas públicas para viver e obriga o simbiótico, que encontra seu lugar no mercado de trabalho, a aceitar remuneração insuficiente pressionado pela possibilidade de ser substituído a qualquer momento.
Para sobreviver, resta-nos rifar nossa comida de qualidade e nos contentar com a alimentação de subsistência, além de comemorar a possibilidade de vender nossas terras e riquezas para estrangeiros, perdendo assim nossa maior moeda real, a agricultura. Reagimos sem nenhuma visão de longo prazo em relação a nossas necessidades, tomando decisões fundamentadas em uma cosmovisão materialista e individualista que colocam nossa nação como escrava das necessidades e refém das circunstancias.
O que esperam nossas instituições representativas alienadas da realidade nacional, que tornam a experiência pública vazia de significado? Será que não percebem que já somos um país sem educação e sem trabalho? Esperam nos tornar um Estado sem educação, sem trabalho, sem-terra, sem comida, sem família e sem nação?
Não há outro caminho. Precisamos retomar nosso país, restabelecer o direito por uma escolha deliberada de nosso destino, determinar que nossos valores, princípios e tradições sejam refletidos nas políticas públicas. Que poder escolher e viver nosso modo de vida seja uma realidade concreta. Precisamos ter o direito a uma real autodeterminação, a determinar nosso futuro. É preciso resgatar o país e salvar as próximas gerações, ou aceitar que nosso país seja uma comunidade periférica da nova constituição global, a mais nova senzala dos mega capitalistas progressistas, que querem regular o mundo e impor o pensamento e o comportamento homogêneo.
É tempo de dizer como e de que forma iremos e queremos viver em nosso país, antes que ele acabe materialmente e reste apenas em seu aspecto formal.
Arthur Pinheiro Machado é empresário na área da educação, fundador da Associação Semeadora.