Em 2022, o Índice Nacional de Custo da Construção, monitorado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), fechou com uma alta de 10,9%, a segunda maior desde 2014. Para entender por que isso aconteceu, em uma análise mais superficial, podemos citar a pandemia. Porém, quando olhamos mais a fundo, vemos outro problema – aliás, que o Brasil enfrenta na construção civil há décadas: a falta de uma industrialização.
Nossa construção civil no Brasil é quase 100% manufaturada. Na década de 1980, isso fazia sentido, pois tínhamos mão de obra abundante, do nível básico à qualificada. Mas esse cenário mudou. Hoje, o filho do pedreiro não é mais pedreiro, por exemplo. Esse corte de geração, ao longo dos anos, promoveu uma mão de obra escassa e, consequentemente, mais cara para as construtoras. Isso só no campo da contratação. Quando abrimos o leque de tudo o que envolve uma obra, o buraco fica ainda mais fundo.
Devemos olhar a industrialização da construção civil além do programa habitacional.
Por exemplo,hoje, no modelo tradicional de alvenaria, o mais usado no Brasil, se planeja em curto prazo e se executa em longo prazo. Por que essa demora na construção? Porque as correções que deveriam ter acontecido no planejamento ocorrem na obra. Isso afeta o prazo de entrega e significa mais custos no canteiro de obra com vigia, água, luz e aluguel de equipamentos. Tem também o aumento do custo da matéria-prima por causa da inflação. Tudo isso encarece o projeto.
A boa notícia é que não precisa mais ser assim. Já existe o caminho da industrialização na construção civil – o que considero inevitável, como o sistema em light steel frame, que utiliza painéis-parede feitos com perfis de aço. No Brasil, a industrialização do light steel frame já está em andamento. Na prática, os painéis-parede chegam na obra prontos para serem montados. Tudo é fabricado milimetricamente de acordo com o projeto: é só encaixar, como se fosse um Lego, e parafusar. Não tem entulho, quebradeira e nem caçamba. E sem atrasos para entrega. O planejamento é mais detalhado e, consequentemente, o prazo de execução é menor, pois não há modificação ou correções na obra. Ganha-se rapidez na entrega do projeto, maior capacidade de produção e redução de custos. Na prática, uma casa de 100 metros quadrados, construída através da industrialização do light steel frame, é erguida em cinco dias e em até 30 dias está pronta para morar. Qual a importância disso para o Brasil?
A última pesquisa da Fundação João Pinheiro aponta que o país tem um déficit habitacional de quase 6 milhões de moradias. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou que irá retornar com o Minha Casa Minha Vida – se fala de um investimento bilionário. Se parte desse investimento fosse destinado para a construção de casas de forma industrializada elas seriam entregues em um prazo 50% menor. O valor dessa agilidade construtiva para o país é imensurável.
No entanto, devemos olhar a industrialização da construção civil além do programa habitacional. Hoje, para que ele faça sentido para qualquer cidadão, precisamos criar um sistema financeiro apropriado. Atualmente, 80% do valor do imóvel é financiado. O restante o comprador tem de pagar ao longo da obra. Se uma casa fica pronta em até 30 dias, o comprador não tem tempo suficiente para arcar com os 20% que não foram financiados. Por isso, precisamos fazer com que seja possível financiar 100% do imóvel, que é um bem consolidado. Isso já acontece com um automóvel, que perde valor de mercado com os anos, então, por que não fazer com um imóvel?
Outra coisa necessária para que a industrialização da construção seja possível é a revisão dos impostos. Atualmente, a indústria que opta por esse modelo é taxada por ICMS, IPI, etc. Além disso, tem a tributação de benefício, que ocorre quando há a beneficiação de peças. Isso encarece toda a produção. Quais as vantagens de colocar todas essas medidas em prática? Ao incentivar a industrialização, criaremos uma demanda para que a produção fique mais barata. Só assim iremos construir um mercado forte e sólido. Dessa forma, em cinco anos, já teremos pelo menos um ramo trabalhando majoritariamente com a industrialização.
Eduardo Gorayeb é engenheiro e proprietário Tego Frame.
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