O setor educacional regulado do país tem ativos mais de 47 milhões de brasileiros desde a etapa infantil, com as creches à pós-graduação stricto sensu, aos programas de mestrado e doutorado em atividade. Diante desse quadro, os participantes no setor precisam ter clareza do que mais importa para a educação do país: promover saltos sociais e movimentar a economia nacional. Ter essa visão é fundamental e pode significar a evolução a partir de agora ou a repetição das mesmas ações na busca de resultados diferentes e melhores.
A pandemia foi um marco para toda a sociedade mundial, permitiu que ocorressem mudanças e inovações em todos os setores econômicos, modificou relações de trabalho, de uso de recursos e formas de ver a realidade. Porém, foi o setor educacional um dos que mais sofreu para entender as novas necessidades impostas pela realidade do isolamento e demorou para preparar ações que diminuíssem o impacto da impossibilidade da reunião de grupos de pessoas. Até instituições religiosas foram mais ágeis ao propor cultos remotos on-line antes de o setor educacional se estabelecer com novas estratégias e o uso de tecnologias.
A educação profissional sempre foi para os índios e negros, chegou a ser escrita em uma das constituições federais como destinada aos “desvaídos de sorte”.
Mas a modalidade de educação ofertada antes da pandemia já se mostrava pouco eficiente quanto a custo versus qualidade de resultados nas avaliações por etapas educacionais (onde se comparam municípios, estados e países) e principalmente quanto a ineficiência de engajamento.
Se os ciclos educacionais do infantil até a educação superior com graduação e pós-graduação stricto senso fossem a tubulação de uma casa, ela estaria toda encharcada e a eficiência de litros que saem da caixa de água até a quantidade de água que chega na torneira seria inferior a 50%. Sim, mais de metade dos alunos se perde pelo caminho da tubulação. A inovação não deve ser usada como chiclete para tampar os furos e quantos furos ainda existem.
A cultura da educação no Brasil sempre foi elitista, sempre foi segregadora, onde nobres portugueses estudavam inicialmente nas escolas internacionais, ou nos liceus criados para os filhos dos agricultores, sempre em estruturas só para “meninos” ou só para “meninas”, criadas e geridas por grupos religiosos. Daí as máximas de que para curar só vale o que dói, para sarar, só o que arde e para evoluir e aprender, é preciso sofrer. A gestão católica traz esta organização elitista, segregadora e de pouca alegria na sua trajetória.
Isso fez com que a educação profissional fosse pouco valorizada em um país em “contínuo desenvolvimento”. A educação profissional sempre foi para os índios e negros, chegou a ser escrita em uma das constituições federais como destinada aos “desvaídos de sorte”.
Há um anseio da sociedade por mudanças, em especial, dos jovens: 96% dos alunos da etapa vinculados a escolas públicas federais, estaduais (na sua maioria) e até municipais, se posicionou indicando que desejam estudar educação profissional.
Em 2023 temos a oferta de um novo ensino médio, com 3.000 horas de aulas (600 a mais do que a anterior). Destas, 1.200 horas correspondem a uma trilha formativa que será escolhida pelos alunos. Mas, claramente os Estados não estarão preparados para ofertar educação profissional devido à falta de professores formados nas áreas de negócios, saúde, indústria, TI entre outras e pela falta de recursos tecnológicos.
Daí a importância das IES privadas, denominadas IPES na portaria MEC 314/2022 que habilitam estas instituições a oferta para que o ensino médio com profissionalização possa atender toda a demanda indicada.
O preconceito ainda existe entre os especialistas em educação que não apontam esta tendência para o setor educacional. Algumas declarações têm sido desprezadas, como a do secretário de Educação como Renato Feder de São Paulo, que prometeu que mais de 50% dos alunos no ensino médio fariam cursos técnicos, ao menos, 3,5 milhões de jovens.
Outras declarações desprezadas, também no Estado de SP, vêm do governador Tarcísio de Freitas, que destaca que a Programação de Computador será disciplina obrigatória e as empresas de tecnologia já se movimentam para se indicar parceiras nesta iniciativa, pois veem a grande possibilidade de atender uma demanda enorme por programadores front end (de páginas de aplicativos) e de programadores full Stack (programadores de sistemas).
A desprezada educação profissional precisa ter o papel que merece. É urgente que se criem alunos pensadores e profissionais do futuro e não sofredores que apenas decoram conteúdo. É anseio dos jovens uma escola que amplie seu leque de oportunidades e ofereça escolhas que lhes permitam trilhar diferentes caminhos de vida. Por isso, a ressignificação do ensino é tão estratégica para as esferas de gestão educacional tanto estadual quanto federal.
César Silva é diretor presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo - FATEC-SP.
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