| Foto: James Tavares/Secom

Nas grandes cidades, a chuva está longe de ser um problema apenas climático. Como temos visto todos os anos, os assustadores alagamentos, enchentes e deslizamentos têm se tornado cada vez mais comuns.

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Não é novidade nenhuma que a urbanização ocorreu de forma desenfreada, muitas vezes sem o planejamento necessário e cobrindo rios que, anteriormente, faziam parte dessas cidades. Avaliando desta forma, não precisamos ser especialistas para saber que a drenagem da chuva precisa ser mais eficiente nos centros urbanos já que, por causa da pavimentação, a água não consegue achar um local para ser absorvida. Os bueiros, que deveriam ser uma solução para o excesso de água, acabam bloqueados pelo lixo e não dão conta da vazão, resultando em transbordamento nos períodos de fortes chuvas.

Desde o início da história contemporânea, o ser humano sempre teve participação na degradação do meio ambiente. No entanto, antigamente a reposição natural desses recursos extraídos era feita de forma espontânea, orgânica. Atualmente, o que acontece são transformações no território e alterações nos ecossistemas e na biodiversidade de forma sistemática e em larga escala, o que tem colocado em risco a própria existência humana.

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Quanto mais ocupada é uma área da cidade, maior é o desafio de incluir uma área verde no local

Por conta disso é que, nos últimos anos, começaram a surgir as Soluções Baseadas na Natureza, que nada mais são do que intervenções humanas inspiradas em ecossistemas saudáveis, para solucionar desafios urgentes da sociedade e que usam a própria natureza a favor disso. Os problemas podem ser diversos, desde o avanço do nível do mar até a escassez hídrica, por exemplo. Nós dependemos e sempre vamos depender do patrimônio natural; por isso, por meio das SBNs, garantimos também a proteção da economia e sociedade.

O conceito ainda é novo no Brasil, o que dificulta a aplicação à realidade brasileira. Mas isso não quer dizer que já não existam bons exemplos de SBN por aqui. Alguns deles, inclusive, foram selecionados em uma chamada de casos promovida pela Fundação Grupo Boticário, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o GVces, e reconhecidos como alternativas viáveis em diversas cidades do Brasil. E, para o caso das chuvas e inundações, algumas das soluções são muito simples.

Leia também: Enchentes e transparência x governos e cidadãos (artigo de Denis Rezende, publicado em 1.º de fevereiro de 2012)

Leia também: De quem é a governança das águas? (artigo de Yves Besse, publicado em 23 de fevereiro de 2017)

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Vejamos um exemplo curitibano. O Parque Barigui, criado em 1972, foi construído com a intenção de conter as enchentes e preservar a mata nativa da bacia do Rio Barigui na região. Além dele, outros parques da cidade foram projetados com o mesmo intuito e são chamados de “parques lineares”, que integram a proteção da biodiversidade à criação de espaços de lazer e também à segurança da população. Essas áreas são essenciais para a infiltração da água das grandes tempestades e, em caso de transbordamento dos rios, não causa grandes prejuízos ao patrimônio público e privado por serem áreas verdes sem a presença de casas, avenidas e outras construções.

No entanto, é importante ressaltar que, quanto mais ocupada é uma área da cidade, maior é o desafio de incluir uma área verde no local. O exemplo do Barigui deu certo justamente por ter sido construído em uma área que não estava ocupada. Telhados verdes, cisternas para captação de água da chuva e recuperação de matas ciliares são outros exemplos de ações que podem ser implementadas em grandes cidades para diminuir os riscos das enchentes e dos alagamentos.

Está cada vez mais difícil conseguirmos reverter os impactos criados ao longo do tempo, mas ainda é possível juntarmos forças com a natureza para prevenirmos novos estragos. E a natureza é nossa maior aliada.

André Ferretti é gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.