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Não sou educador, apenas médico e professor universitário. Mas é como pai que manifesto minha preocupação com a possibilidade de se colocar uma máquina de preservativos nas escolas públicas de ensino médio.

Vivemos em uma sociedade pluralista. Para Norberto Bobbio, o Estado laico não é nem religioso nem ateu. Representa a condição de sobrevivência para todas as culturas. Assim, é natural que a defesa da liberdade seja um valor importante. Seguindo essa linha, o exercício da sexualidade pode ser considerado como uma das mais fortes manifestações da autonomia.

Contudo, os jovens muitas vezes são levados por uma cultura que os convida a exercer a liberdade sem limites, condição que pode se concluir em frustrações, provocadas pela falta de valores de referência e por aquilo que Max Weber expressou como "desencantamento do mundo". Referia-se à progressiva racionalização que não se acompanhou de um conhecimento mais amplo das condições de vida que nos circundam. Resultou assim na consciência de que basta querer para poder e de que a técnica pode resolver todos os problemas.

Na Inglaterra, após uma maciça e mal-elaborada campanha para prevenção de acidentes de trânsito com o uso do cinto de segurança, diminuíram os acidentes com morte entre motoristas, mas aumentaram entre ciclistas e pedestres. A causa disto é que os motoristas tornaram-se tão seguros, que passaram a abusar mais na velocidade. A força de sugestão que pode ser criada no imaginário coletivo com uma campanha, mesmo bem-intencionada, deve ser considerada sempre que se utiliza a palavra "prevenção".

Muitas escolas em Curitiba proíbem o comércio de refrigerantes. Coca-cola não pode, mas sexo pode, basta que se use a camisinha – basta querer para poder. Será esta a educação sexual que esperamos para os nossos filhos? Qual o poder dessa mensagem subliminar para esta faixa etária?

Como médico, não vejo que essas máquinas possam diminuir a incidência de doenças sexualmente transmissíveis ou de gravidez indesejada. Os preservativos são comercializados com facilidade nos supermercados, farmácias, bares, danceterias e banheiros públicos. Por que colocar também nas escolas? Não correríamos o risco de uma erotização ainda maior pela força de sugestão, tal qual o que ocorreu no Reino Unido? Nossos filhos não vão à escola para isto.

O preservativo reduz o risco de transmissão da aids e é uma medida de saúde pública. Mas o aumento no número de parceiros, mesmo com o uso do preservativo, aumenta a transmissão de outras doenças, tais como HPV e herpes genital. Além disso, a gestação não é completamente evitada. O Índice de Pearl, que mede a eficácia das diferentes técnicas contraceptivas, coloca como risco de falha entre 7% e 10%.

Assim, a solução não é a máquina de preservativos na escola – não é a técnica resolvendo todos os problemas – mas a educação direcionada para a sexualidade como experiência de plenitude. Usufruir, sim, da liberdade, mas da liberdade responsável, que conhece limites. E nem sempre esses limites estão claros para uma faixa etária em que predomina o componente hormonal. Onde o poder da sugestão, da necessidade de auto-afirmação e do grupo sobre o indivíduo é mais forte do que em qualquer outro período da vida. Prefiro mais educação e menos ilusões, técnica aliada ao humanismo e liberdade, não dissociada da responsabilidade. Preservar para prevenir.

Cícero de Andrade Urban é médico oncologista e mastologista e leciona Bioética e Metodologia Científica no curso de Medicina do UnicenP.

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