As políticas públicas focadas na Previdência Social e no seguro-desemprego ganharam espaço nos países capitalistas após a Segunda Guerra Mundial. Tinham como propósito barrar a expansão do socialismo, fornecendo maior estabilidade e equidade ao novo modelo de desenvolvimento: o Estado do Bem-Estar. No Brasil, a Previdência Social protege cerca de 65 milhões de pessoas ocupadas entre 16 e 59 anos, e 21,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Vivemos em uma economia baseada nos fundamentos da social-democracia, consolidada pela Constituição de 1988.
Mesmo tendo contribuído para seus propósitos iniciais, o instrumento previdenciário sempre necessita de ajustes contínuos. Um deles está relacionado à questão do gênero. Atualmente, no Brasil a idade mínima de aposentadorias é de 65 anos para homens e 60 para mulheres.
Entre os países europeus da OCDE, apenas a Suíça faz distinção entre os gêneros
Ignorando as diferenças
Leia artigo de Lúcia Young, professora do curso de Ciências Contábeis da Universidade PositivoGrande parte do contingente de idosos, protegidos pela Previdência Social, é de mulheres. Em média, elas estão vivendo mais que os homens. De acordo com os dados censitários do IBGE, em 1970 a expectativa de vida ao nascer entre as mulheres era de 60,8 anos e, entre os homens, de 57,6. Passadas quatro décadas, a expectativa de vida passou para 77,3 anos para as mulheres e 69,7 para os homens. Como consequência, a população idosa feminina aumentou nas últimas décadas e vai continuar se expandindo. Em 2000, a população idosa com 80 anos ou mais era formada por 60% de mulheres. Espera-se para 2020 uma representatividade de 66%.
Apesar do aumento crescente da participação das mulheres no mercado de trabalho, pode-se destacar alguns desequilíbrios preocupantes. Em 2013, a Pnad registrou que 94% dos trabalhadores domésticos sem carteira assinada eram mulheres e, no caso de funcionários públicos estatutários, estimava-se que as mulheres ocupavam funções de pior remuneração. Ou seja, em média o mercado de trabalho brasileiro remunera pior as mulheres e em situações mais graves dificultam sua formalização, evitando, por exemplo, assinar a carteira de trabalho.
Segundo informações da imprensa, o governo federal vem elaborando uma proposta de reforma da Previdência que prevê a unificação, no longo prazo, de todos os regimes previdênciários. As regras serão as mesmas para homens e mulheres, trabalhadores urbanos e rurais, do setor público e do privado. Provavelmente, o governo irá propor o aumento da idade mínima de aposentadoria, sendo esta igual para homens e mulheres. O foco é realizar essa transição ao longo de 20 ou 30 anos. Entre os países europeus da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas a Suíça faz distinção entre os gêneros. É importante destacar que estas economias lideraram o modelo do Estado do Bem-Estar em todo o mundo.
Cabe registrar que as despesas com os benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) vêm crescendo, representando cerca de 7% do PIB. Neste sentido, para garantir o equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social, torna-se fundamental adotar uma regra igualando a idade mínima entre homens e mulheres. Entretanto, essa ação deve ser acompanhada pelas políticas de valorização e formalização do trabalho das mulheres. Sem esse conjunto de atitudes, não teremos de fato um equilíbrio de gênero na Previdência Social de nosso país.
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