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Primeiro emprego: o papel das empresas não pode ser negligenciado

Imagem ilustrativa. (Foto: Henry Milleo|Arquivo Gazeta do Povo)

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Há tempos os jovens brasileiros já entenderam que a qualificação profissional é o caminho para aumentar a empregabilidade fundamental para que eles possam continuar a formação universitária. Segundo o estudo intitulado Síntese, organizado pelo Instituto da Oportunidade Social (IOS), 87,4% dos alunos que se formam no ensino médio são da rede pública no país, porém apenas 18% dos jovens com até 25 anos de idade buscam graduação e 74% deles cursam a graduação no ensino particular.

Os números deixam evidente que sem emprego eles não conseguem dar continuidade à formação universitária, que as empresas insistem em exigir na ordem inversa. Primeiro é preciso dar a oportunidade de emprego, depois exigir a formação.

Os dados apontam ainda que a população jovem do Brasil é, atualmente, a maior da história: são mais de 47 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Também é a mais afetada pelo desemprego no Brasil. O tão sonhado primeiro emprego é o caminho que transportará esses jovens do desalento para uma realidade profissional mais justa e promissora. Eles precisam de emprego para bancar os estudos.

Somente formar não resolve. É preciso empregar os jovens que ajudamos a formar, em especial aqueles em situação de vulnerabilidade social.

Os programas de primeiro emprego destinados às juventudes são cobrados das empresas e devem ser encarados por elas como ação social de fato. E são mesmo porque o emprego é tudo o que o jovem precisa.

Um ranking divulgado recentemente pela OCDE (Education a Glace 2022) coloca o Brasil em 2º entre os países onde os jovens de 18 a 24 anos não trabalham e nem estudam, registrando um índice de 35,9%, atrás apenas da África do Sul com 46,2%. As empresas aqui instaladas ainda resistem em dar oportunidades aos jovens. A começar pelas exigências curriculares, que quase nunca condizem com a realidade da maioria da população jovem. As oportunidades estão mais acessíveis para aqueles com mais privilégios.

Injustamente, os jovens mais distantes das oportunidades, ainda são acusados de não promoverem seu próprio desenvolvimento, o que não é verdade. De acordo com dados do IBGE, em 2019, o país registrou 9,3 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 7,1% frequentava algum tipo de curso técnico. A pandemia acelerou esse processo e procura por qualificação profissionalizante tem aumentado. Eles já entenderam que os cursos complementares ajudam no aumento das oportunidades de trabalho.

Esses cursos – muitos deles gratuitos – são apoiados e financiados por ONGs em parceria com empresas e se dedicam a qualificar esse jovem e prepará-lo para o trabalho, trazendo não apenas o ensino técnico, ​​mas atuando nas soft skills e na extensão de raciocínio lógico e comunicação e expressão.

Esse é o caminho que as empresas, em especial as do setor de tecnologia, têm percorrido para formar em tempo hábil novos talentos para ocupar inúmeras vagas que não param de surgir. Até 2025, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), serão 800 mil vagas a serem preenchidas e não haverá profissionais suficiente para ocupá-las. Isso já está ocorrendo.

Recorrer à formação profissional de jovens pode e deve ajustar esse quadro e fazer essa conta bater. Muitas empresas têm investido nesse modelo de formação. Mas é preciso ir além. Somente formar não resolve. É preciso abrir essa frente do primeiro emprego. É preciso empregar os jovens que ajudamos a formar, em especial aqueles em situação de vulnerabilidade social.

Essa “corda jogada” é a real contribuição para o desenvolvimento profissional das juventudes e pode trazer às empresas muito mais benefícios às empresas do que simplesmente cumprir a obrigatoriedade da Lei do Aprendiz.

Esse jovem, que passa por uma formação de qualidade, especializada e técnica, chega às empresas já com conhecimentos da rotina corporativa. Nos bons cursos de formação profissional, eles aprendem desde montar apresentações, projetos, até a utilizar as ferramentas digitais mais atuais que o mercado demanda em tempo hábil.

Outra vantagem é que ao empregá-los as empresas contribuem de fato na geração de impacto social positivo e, a partir daí, completam as suas agendas com o foco em ESG. Um estudo do IOS indica que um jovem que está formado em seus cursos, quando inicia no primeiro emprego consegue incrementar a sua renda familiar em 54%. Isso é impacto social positivo.

Ainda com relação às demandas ESG, esses jovens, que no geral, são oriundos de escola públicas, de bairros periféricos e ligados aos marcadores sociais, contribuem para aumentar a diversidade dentro das empresas.

Soma-se aos benefícios do primeiro emprego a esses jovens que fizeram os cursos de formação profissional, um custo a menos para as empresas com qualificação e treinamento. Isso porque eles já chegam treinados nas companhias, prontos e com soft skills atualizadas e desenvolvidas. É um jovem que já chega com referência porque foi indicado pela ONG responsável pelo curso e que vai acompanhá-lo, mesmo após a formação. Tudo para garantir seu sucesso profissional e ao mesmo tempo atender à necessidade da empresa por novos talentos.

Além de todos esses benefícios, o principal deles vai bem além das questões financeiras. Trata-se da gratidão desse jovem por ter uma porta aberta, uma corda jogada. A primeira oportunidade tem um valor diferenciado para o jovem periférico. Esse valor é percebido quando ele ingressa no mundo do trabalho. Por outro lado, a gestão empresarial carrega mais humanização e práticas de ESG essenciais junto ao seu capital humano. Nessa relação entre empresas e jovens, todos têm a ganhar.

Alecsandra Neri, graduada em Matemática e pós-graduada em Administração de Empresas e Gestão, é gestora de operações do Instituto da Oportunidade Social – IOS.

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