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Chico Simeão e Luiz Bonacin são dois tipos singularíssimos: passam o tempo utilizando a cabeça para inventar formas de ganhar dinheiro e tourear os concorrentes e adversários, como bons capitalistas que são. E utilizando o coração para investir em algumas causas à primeira vista quixotescas como a Vila da Cidadania, que acabam de inaugurar em Piraquara. A Vila servirá para ensinar às crianças o significado dessa palavra mágica, "cidadania" que é utilizada com alegre desenvoltura por políticos de todas as extrações sem grandes preocupações com sua real substância. Trata-se de uma cidade mirim, que replica uma cidade de adultos, com Prefeitura, Câmara, fórum, banco, supermercado, biblioteca e museu, na qual as crianças das escolas públicas de Piraquara e do Paraná terão oportunidades para exercitar os verdadeiros atributos da cidadania: aprender a viver em sociedade, respeitar os direitos dos outros, esquecer as diversidades raciais, econômicas, religiosas e culturais como critérios de classificação social e participar efetivamente do processo político desde cedo.

Graças ao esforço conjunto entre a dupla e o prefeito Gabão, de Piraquara, o aprendizado da cidadania passou a ser uma disciplina obrigatória no currículo das escolas municipais, mas, diferentemente de outras iniciativas anteriores semelhantes, como o aprendizado da ecologia e do trânsito, a Vila da Cidadania criou as condições físicas e tecnológicas para que as crianças realmente exercitem seu aprendizado participando da "pólis" criada para elas.

Não é o primeiro projeto social da dupla: centenas de meninos e meninas foram acolhidos no Projeto Bom Aluno, tiveram acesso a oportunidades educacionais até agora reservadas aos bem nascidos, foram capazes de competir pelas vagas nas universidades públicas em igualdade de condições, muitos foram enviados para o exterior, e aprenderam uma segunda língua. Dezenas já se formaram e a cada ano um contingente cada vez maior transporá o vestíbulo da elite intelectual brasileira ao receber seus canudos de bacharéis. O Grupo de Escoteiros Guardião das Águas é o maior do Brasil com quase 600 meninos e meninas, antes marginalizados.

Que ganham os empresários com esse tipo de iniciativa? Em português claro, nada. Só podem aspirar a experimentar um sentimento íntimo de satisfação por terem feito algo por seus semelhantes espontaneamente e sem espera de retribuição. Mas isso não é pouco. Afinal, quantos podem responder à pergunta do Senhor no Evangelho: "Servo: que fizeste de meus talentos?" dizendo: "Nós os multiplicamos". Estamos em um país em que uma boa parte teria de admitir: "Nós os enterramos", enquanto outra parte, não desprezível, seria obrigada a confessar: "Nós os subtraímos".

Conheço Chico Simeão há 25 anos, sempre envolvido com projetos ambiciosos que inevitavelmente lhe rendem adversários poderosos e a admiração de seus amigos como eu. O último deles é a remoldagem de pneus, na qual se chocou de frente com as grandes multinacionais do setor apoiadas, curiosamente, pelos órgãos de defesa ambiental do Brasil, o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, apoiados pela facção fundamentalista do movimento ecológico.

Para uma mente pedestre como a minha, sempre pareceu que fazer um pneu novo a partir do zero deve gastar mais energia, produzir mais poluição e utilizar recursos finitos em nível muito maior do que pegar uma carcaça intacta, raspá-la e cobri-la de novo de borracha. Também me parece que exigir que para cada pneu produzido a indústria seja obrigada a retirar um determinado número de pneus velhos da natureza, destruí-los e vender para a indústria de cimento utilizar como combustível, em vez de gastar óleo diesel ou lenha de florestas cada vez mais escassas, é uma boa idéia. Chego a acreditar que a retirada de mais de 12 milhões de pneus abandonados, que serviam como foco de dengue, tenha contribuído para eliminar a doença em nosso estado e reduzi-la drasticamente no resto do Brasil. Pode ser que esteja enganado, mas alguns ambientalistas que tentaram me convencer disso não foram nada convincentes, preferindo recorrer a alguns chavões esgrimidos pelas multinacionais dos pneus, como a "importação de lixo" para substanciar suas posições. Já estou meio velho para ser convencido por slogans e palavras de ordem.

A Vila da Cidadania está lá na Rodovia Leopoldo Jacomel, na chegada de Piraquara, para provar que aquela anedota cruel e irônica de que, se um capitalista perder um olho num acidente e colocar uma prótese, o olho de vidro terá mais calor humano do que o olho natural, não se aplica a todos os empresários, muito menos a esses dois sonhadores com os pés no chão que sabem o segredo de usar o cérebro e o coração simultaneamente.

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