Se é verdade que o Paraná não tem tido a devida representatividade política e precisa acertar seu passo, há outras áreas em que o estado está a dever muito aos seus cidadãos e precisa acordar. Refiro-me às questões do trânsito que, a cada dia se torna num pesadelo para a população.

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Sob o ponto de vista da mobilidade, a sociedade tem sofrido bastante por falta de uma política clara e objetiva que torne um direito inalienável o ir e vir dos cidadãos. O aumento da frota, o despreparo dos motoristas, ao lado de outros problemas da sociedade moderna têm representado um quebra-cabeça insolúvel para a engenharia de tráfego de nossas cidades.

Sob o ponto de vista da segurança no trânsito, o Paraná mostra sinais de estar muito distante das demais áreas tendo se tornado um dos estados mais violentos do país. É difícil imaginar como o estado possa ter desaprendido regras de cidadania, de respeito, de convívio social apesar do seu grande desenvolvimento econômico e da posição de liderança que ocupa no cenário nacional.

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Vamos aos números, que falam melhor. As informações que uso são do Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que tem como fonte os atestados de óbitos conferidos e enviados pelas secretarias municipais de saúde e correspondem ao ano de 2006.

Por esses dados, em 2006 morreram no nosso trânsito 2.995 paranaenses, a terceira maior taxa padronizada de mortalidade para os acidentes de transportes terrestres no país, atingindo 28,1 óbitos por 100 mil habitantes (índice usado pela Organização Mundial de Saúde). Os números de 2007 vão para 3.173 mortes e os provisórios de 2008 sobem ainda um pouco mais. O Paraná era, em 2006, o terceiro estado com maior número de pedestres mortos no trânsito com um total de 743 e o 11.º do país em número de motociclistas mortos, com 559 vítimas.

Segundo o banco de dados do Ministério da Saúde, o Paraná possuía oito cidades com mais de 100 mil habitantes entre as que detêm as maiores taxas de fatalidades por acidentes de trânsito do Brasil. Toledo, no Oeste do estado, era a líder nacional com 57,8 óbitos por 100 mil habitantes. Entre os 50 municípios com população entre 20 mil e 100 mil habitantes, o Paraná possuía oito com maiores índices de mortalidade no trânsito.

Curitiba tampouco escapa da crueza das estatísticas do SIM. Em 2006, o número de mortes foi de 427, ficando em nono lugar entre as capitais brasileiras. Em 2007 o total havia baixado para 413, ainda assim, inaceitável para uma cidade que se pretende de primeiro mundo e de exemplo para tantas outras.

Um último dado claro e forte que serve para concluir: os números do SIM mostram que no Brasil morrem no trânsito cerca de 19 pessoas por grupo de 100 mil habitantes, conforme o índice adotado pela OMS. Pois bem, no Paraná esse índice era 28,5 enquanto Curitiba ficava com 21,5.

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OK. Pode-se dizer que o Paraná está sendo punido por ter estatísticas bem controladas enquanto outros estados, notadamente no Norte e no Nordeste, não têm. Pode ser. Contudo, o que salta aos olhos são os números absolutos e não apenas a posição no ranking nacional. São exageradamente altos para um estado que tem o nível de desenvolvimento do Paraná.

Esse panorama, mais que sombrio, serve para justificar o título deste artigo. É essencial que o estado tenha uma liderança firme, comprometida em recolocar a segurança no trânsito do Paraná nos devidos lugares. Não é admissível que um estado tão pujante como o nosso desmorone diante de quadro como este.

Embora surpreendam (ou agridam), os números têm certa razão de ser: o Paraná não possui uma política de trânsito e muito menos política de segurança no trânsito. O único órgão estadual envolvido diretamente com o trânsito, o Detran, sequer tem atribuição e competência legal para interagir com os municípios na medida de suas necessidades. Enfim, aqui, como de resto em todo o país, segurança no trânsito não é prioridade.

Das 399 cidades paranaenses apenas 30 fazem parte do Sistema Nacional de Trânsito e possuem algum tipo de estrutura local para cuidar do assunto. Os mais de 220 prefeitos paranaenses de cidades com menos de 10 mil habitantes possivelmente nem sabem que, pelo Código de Trânsito Brasileiro, são eles os responsáveis pelo trânsito nos seus municípios!

A maioria dos municípios paranaenses e brasileiros com menos de 30 mil habitantes (são mais de 4.800 pelo país todo) está praticamente desligada e descomprometida com o Sistema Nacional de Trânsito. Enquanto isso o país registra mais de 36 mil mortes anuais em acidentes de trânsito, e o Paraná assiste a mais de 3 mil.

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Esse tema tem de entrar na pauta dos candidatos ao governo do estado, que devem ser cobrados por compromissos com uma causa tão importante. Dinheiro não é o elemento determinante para um enfrentamento à altura desse problema. Vontade política é o que está faltando para colocar o trânsito como prioridade estadual e nacional.

J. Pedro Corrêa, especialista em trânsito, autor do livro 20 anos de lições de trânsito no Brasil.jpedro@jpccommunication.com.br.