Uma recente pesquisa mostrou que os bons alunos não querem mais seguir o magistério, um de­­sastre para o ensino. Realmente, a educação passa por uma transição de qualidade. Professores lutam com comportamentos antes inexistentes de alunos e pais – a mídia tem demonstrado esse fato em muitos momentos. Alunos e pais que não respeitam esse profissional como deveriam.

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A diretora de uma escola particular relatou-me que, em uma sala do 2.º ano do Ensino Fundamental, portanto de crianças com idade entre 7 e 8 anos, um menino levava todos os dias um celular para a aula e o utilizava quando queria. Esse fato perturbava o ambiente. Solicitado muitas vezes a desligá-lo, não obedecia. Recado para os pais, sem resposta. Certo dia, a professora pegou o celular e solicitou ao pai que viesse até a escola. No dia seguinte, esse indivíduo entra na sala de aula com seu filho pela mão e perante todo o grupo diz: "Hoje vim pegar o celular; da próxima vez mando a polícia."

Pode um profissional do magistério conviver com esse tipo de postura? Aí se percebe, com clareza, a falta de estímulo e de atenção da sociedade em relação esse profissional.

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Os jovens brasileiros não querem mais saber do magistério e não é para menos. O professor é um lutador diante das dificuldades que se apresentam: remuneração baixa, condições de trabalho por vezes massacrantes, falta de apoio didático, bibliotecas mal equipadas, falta de apoio político. Como se não bastasse, ele ainda deve ser um especialista em drogas e saber lidar com uma incontrolável indisciplina, que leva para a sala de aula a generalizada confusão entre liberdade e liberalidade.

Segundo Cristovam Buarque, "Hoje, ser professor no Brasil é um ato de heroísmo. Eles são nossos heróis e merecem que lhes ergamos monumentos como se fossem soldados retornando do campo de batalha".

Como professora, educadora há 50 anos, passando por todos os níveis escolares, visito muitas escolas e percebo a variedade de posturas desse profissional. São poucos aqueles que realmente são educadores e que passam para seus alunos a im­­portância dos estudos, da ética, dos valores, do respeito. Mas existem.

Li um depoimento de um professor não identificado, que relata a um grupo de universitários: "Desde que comecei a lecionar, descobri que nós professores trabalhamos com apenas 5% dos alunos de uma turma. Observei que, de cada cem alunos, apenas cinco são aqueles que realmente fazem a alguma diferença no futuro, apenas cinco se tornam profissionais brilhantes; os outros 95% servem só para fazer volume". Com os professores se fecha tam­­bém esse cerco de competência. O que se conclui que esse profissional, o professor, está, segundo o depoimento, em igualdade a outras profissões.

Somente o tempo dirá a que grupo pertencemos. Contudo uma coisa é certa: se não houver uma radical mudança de postura tanto da nossa sociedade como dos nossos políticos em relação a essa profissão, e, se nós professores não tentarmos ser especiais em tudo que fazemos, seguramente sobraremos na turma do resto que só faz volume.

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Elinor Eschholz Ribeiro é mestre em Educação pela UFPR e professora da Uniandrade.