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Professores formados via educação a distância: um “problema” para o MEC?

(Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Gazeta do Povo)

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Não é ruim mudar de opinião. Ruim é não querer mudar de opinião. Começamos o texto desta forma pois fomos contra o ensino à distância (EAD) por algum tempo, mas vemos hoje como uma excelente alternativa para a democratização do ensino de forma geral. Em 2022, dois em cada três estudantes que entraram no ensino superior optaram pelo ensino à distância, conforme dados do Censo do Ensino Superior divulgados em Brasília.

Vemos um aumento significativo nessa modalidade de ensino entre 2018 e 2022, com um crescimento de 189% na oferta de cursos à distância. Dos quase cinco milhões de estudantes que ingressaram no ensino superior no ano passado, 65% escolheram o ensino a distância, sendo 81% entre os que optaram por cursos de licenciatura. Isso parece preocupar o Ministério da Educação por algum motivo.

É um grande engano achar que um aluno presencial é mais preparado para lidar com uma sala de aula do que um aluno do EAD.

Analisando a situação educacional do Brasil atual, ficamos preocupados com outros índices. Nos indicadores internacionais que avaliam a educação – PISA e PIRLS – nosso país se encontra em posições alarmantemente baixas. No PISA, que avalia o desempenho de estudantes com 15 anos de idade, o Brasil ocupa a 53ª posição entre 64 nações. Quanto ao PIRLS, que mensura a proficiência em leitura de alunos do 4º ano do ensino fundamental, o Brasil se situa na 52ª posição dentre os 57 países participantes. Talvez, o Ministério da Educação não tenha entendido que estamos nessas posições com professores formados no ensino presencial. Acreditamos que em vez de estigmatizar o EAD, o Ministério da Educação deva se aproximar dele, entendendo como uma excelente alternativa para a formação docente. O mundo é tecnológico e não podemos mais mudar isso.

É um grande engano achar que um aluno presencial é mais preparado para lidar com uma sala de aula do que um aluno do EAD. A modalidade de ensino, seja ela presencial ou a distância, não determina a capacidade de um aluno para lidar com uma sala de aula. Ambas as modalidades têm seus próprios méritos e desafios. Os alunos do EAD desenvolvem habilidades valiosas, como autodisciplina, gerenciamento de tempo e habilidades digitais, que são extremamente úteis em um ambiente de sala de aula.

Além disso, muitos programas de EAD oferecem oportunidades para discussões em grupo e interações com professores, semelhantes às experiências em sala de aula presencial. Portanto, é importante não subestimar o valor do EAD. A qualidade da educação é um parâmetro que depende do comprometimento e dedicação do aluno, da qualidade do currículo e do apoio dos professores e não apenas da modalidade de ensino. E diferente do ensino presencial, o EAD chega a lugares desconsiderados pelo poder público.

Ao olhar o horizonte próximo, é necessário considerar um outro desafio: a necessidade de valorizar o papel do professor. No ano passado, o Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo) divulgou que, se não forem tomadas medidas agora, enfrentaremos um déficit de 235 mil professores na educação básica. Na mesma época, no ano passado, com o fim das restrições da pandemia, o setor educacional teve um déficit de 50 mil vagas. Isso está diretamente relacionado com a precarização do trabalho docente, que incluía necessidade dos professores de ensinar em várias escolas, para assegurar um salário suficiente; salas de aula com excesso de alunos, dificultando a eficácia do ensino e aumentando a carga de trabalho; a ausência de materiais e infraestrutura adequados, aliada à falta de formação contínua, o que resulta em condições de trabalho precárias. Esses fatores afetam diretamente a qualidade da educação, pois professores desmotivados ou sobrecarregados podem não conseguir proporcionar o melhor ensino.

Diante de tudo isso, é imprescindível a implementação de políticas públicas efetivas para melhorar as condições de trabalho dos professores e garantir uma educação de qualidade para todos os estudantes no Brasil. Talvez o MEC esteja com as preocupações erradas ou incomodado com a possibilidade de o EAD ser um sucesso.

Flavia Sucheck Mateus da Rocha é mestre em Educação em Ciências e em Matemática e Coordenadora da Área de Exatas do Centro Universitário Internacional UNINTER; Daniel Guimarães Tedesco é doutor em Física pela UERJ e professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas no Centro Universitário Internacional UNINTER.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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