Imagem ilustrativa.| Foto: Vadym Drobot / Freepik
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Em 2022, 495.755 estudantes foram contratados como jovens aprendizes no Brasil, um volume 5% maior do que no ano anterior. Os dados são do CAGED e tudo indica que, em 2023, essa porta de entrada no mercado de trabalho será ainda mais relevante para profissionais em início de carreira. Só no primeiro trimestre deste ano, 165.326 jovens aprendizes foram admitidos, um aumento de 11% no comparativo com o mesmo período no ano passado.

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Acompanhar esse crescimento tem um valor especial para mim. Conheço bem de perto a importância que o programa jovem aprendiz pode ter na vida de uma pessoa, principalmente, se for aluno de escola pública ou morar em regiões de periferia. Eu sou neta de uma analfabeta e filha de uma mulher que cursou apenas até a quarta série do ensino primário. Minha mãe só concluiu os estudos muitos anos depois graças ao EJA (Educação de Jovens e Adultos). Fui uma das primeiras pessoas da minha família a ter o ensino médio completo - em escola pública, claro. Depois tive a chance de cursar uma faculdade e lembro bem que conciliar a jornada de trabalho de 8h e a vida acadêmica era bastante desafiador. Já minha irmã caçula, começou a carreira como jovem aprendiz numa empresa de grande porte, que fez toda diferença para o desenvolvimento profissional dela no mundo corporativo.

Enquanto para alguns jovens o salário serve para comprar roupa e sair com amigos; para outros, significa pagar uma conta ou colocar comida dentro de casa.

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Existem milhares de histórias bacanas proporcionadas por empresas que de fato geram ações focadas no desenvolvimento de jovens. A Lei do Aprendiz completa 23 anos este ano, mas ainda é um bebê se comparada com a maturidade da Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, nascida nos anos 40. Portanto, ainda há muitos desafios pela frente para que haja cada vez mais oportunidades para jovens aprendizes nas empresas.

Quando a legislação foi implantada, as vagas para jovens aprendizes surgiam apenas para cumprir as cotas obrigatórias. Em geral, recebiam atividades básicas que não geravam aprendizados ou tarefas que exigiam mais conhecimento do que tinham. A verdade é que as empresas ainda não estavam preparadas para acolher os jovens e raramente tinham profissionais de recursos humanos dedicados a acompanhar o desenvolvimento dos contratados.

Com o tempo, as empresas foram absorvendo o conceito por trás das “temidas” cotas: inserir os jovens estudantes no mercado de trabalho. Hoje em dia, os cursos de capacitação vão além do conteúdo exigido por lei, os líderes recebem treinamentos para desenvolver os jovens, processos seletivos são criteriosamente conduzidos e, assim, as oportunidades reais de aprendizado impactam positivamente o futuro desses profissionais.

Algumas organizações já perceberam as vantagens de contar  com programas de jovens aprendizes bem estruturados e, com isso, resgataram o propósito social da iniciativa. Embora seja uma contratação sob regime CLT, trata-se de um contrato de trabalho que tem duração máxima de dois anos, uma jornada de até 6 horas diárias (um total de 30 horas semanais) e os direitos trabalhistas se restringem a um salário calculado com base no salário mínimo, FGTS de 2% e vale-transporte. Porém, é comum que os contratantes disponibilizem um pacote de benefícios mais amplo com vale-refeição, convênio médico, academia e afins.

Um programa de jovem aprendiz permite também implementar o “S” da sigla ESG e reforçar o papel social de uma empresa. Ao se posicionar como empresa socialmente consciente, a companhia contribui para que jovens de classes sociais mais baixas sejam mais valorizados pela sociedade. Além disso, é interessante para fomentar a diversidade de uma empresa, já que, em geral, os estudantes que mais se interessam por vagas de jovem aprendiz são alunos de escolas públicas e trazem na bagagem histórias de vida movidas por poucos recursos financeiros. É uma forma de diminuir o distanciamento social e gerar situações que ampliem a leitura de mundo de todos os colaboradores.

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Vou dar um exemplo real, que eu vivenciei durante um programa de jovem aprendiz de uma empresa. O processo seletivo foi bem criterioso e os contratados vivenciavam contextos de vulnerabilidade social. Entre os benefícios, a organização oferecia voluntariamente, às 10h da manhã, um kit de lanche com um salgado, um doce e um suco. Em um certo momento, os líderes perceberam que alguns jovens guardavam uma parte do lanche em suas mochilas e cogitaram reduzir os itens do kit. Fizemos uma pesquisa para entender qual dos três itens era menos valorizado e poderia ser cortado. Logo na primeira resposta, recebemos a seguinte frase: “Eu gosto de todos os lanches e não tiraria  nada. Eu saio às 5h da manhã de casa e essa é minha primeira refeição do dia e às vezes até guardo algo para levar para minha família”.

Encarar verdades como essa, faz com que as pessoas saiam de suas bolhas. Enquanto para alguns jovens o salário serve para comprar roupa e sair com amigos no fim de semana, para outros, significa pagar uma conta de luz, colocar comida dentro de casa e comprar material escolar. Saber disso é o que me motiva todos os dias a mergulhar no universo dos jovens aprendizes. Um programa de jovem aprendiz permite reduzir a evasão escolar, afasta adolescentes da criminalidade e alimenta a esperança de um futuro melhor para diversas famílias no Brasil.

 Bruna Tamires Nascimento é psicóloga e pedagoga formada pela FMU e gerente do Programa de Aprendizagem da Companhia de Estágios.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]