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Projeto 2025 de Trump é um jogo onde o Brasil ainda precisa definir sua posição

Trump promete aplicar tarifas recíprocas no Dia da Libertação, e Brasil deve ser um dos alvos.
Trump promete aplicar tarifas recíprocas no Dia da Libertação, e Brasil deve ser um dos alvos. (Foto: EFE/EPA/BONNIE CASH / POOL)

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As eleições nos Estados Unidos sucessivamente têm impacto global e, a possível implementação do chamado “Projeto 2025” pode representar uma das transformações mais expressivas na política americana nas últimas décadas. Sob intento de reestruturar intensamente o governo federal, essa iniciativa visa concentrar maior poder no Executivo, diminuir regulações e alterar políticas comerciais e financeiras.

Se materializado, essa medida terá reflexos diretos na economia mundial, incluindo o Brasil, determinando uma adaptação estratégica para evitar perdas e potencializar oportunidades. Mas, afinal, o que está em jogo e como o Brasil pode se posicionar diante desse novo cenário?

O Projeto 2025 é uma proposta desenvolvida por grupos conservadores nos Estados Unidos, especialmente ligados ao Partido Republicano, que tem como objetivo reformular a estrutura administrativa do governo federal. Entre suas diretrizes centrais, destacam-se a expansão do poder presidencial, reduzindo a independência de órgãos reguladores e conferindo maior controle ao Executivo sobre as decisões governamentais; a desregulamentação econômica, com a eliminação de barreiras regulatórias para incentivar o crescimento da indústria e dos negócios nos EUA; a revisão de políticas ambientais, com a retirada de restrições para combustíveis fósseis e afrouxamento de compromissos climáticos; o protecionismo comercial, com o fortalecimento da produção interna americana e possíveis restrições às importações; e as mudanças fiscais e financeiras, promovendo a redução de impostos e incentivando a atração de capitais globais para os EUA.

Logicamente, tudo isso vem a reboque das posturas e da chancela do presidente Donald Trump que, em suas primeiras intervenções, já adota um tom impactante num discurso de taxação envolto em medidas de “tarifaço” provocando oscilações de mercado, mas também atribuindo incerteza em razão do vai e vem relacionado a México e Canadá, porém protagonizando estremecimento na relação comercial com a China.

Com a possibilidade de fuga de capital para os EUA, o Brasil deve criar um ambiente econômico atrativo para investidores, por meio de políticas fiscais estáveis, segurança jurídica e incentivos para setores estratégicos, como tecnologia e energia renovável

Caso o Projeto 2025 seja implementado, é provável que os Estados Unidos adotem uma postura mais protecionista e nacionalista em sua política econômica. Isso pode gerar uma série de impactos internacionais, incluindo barreiras comerciais mais rígidas, dificultando a entrada de produtos estrangeiros no mercado americano e afetando exportações brasileiras; revisão de acordos internacionais, com tratados comerciais sendo renegociados para favorecer a indústria americana e dificultar a competitividade de outros países; mudanças no fluxo de investimentos, com políticas fiscais mais agressivas atraindo capital estrangeiro para os EUA e reduzindo investimentos em mercados emergentes; e instabilidade nos mercados financeiros globais, onde o enfraquecimento de regulações pode gerar um ambiente mais volátil, com impacto direto no dólar e na taxa de juros global. O Brasil, sendo uma economia emergente e com certa dependência do comércio internacional, precisa estar atento a essas mudanças e agir proativamente para minimizar impactos negativos.

Para evitar ser prejudicado por essas possíveis transformações, o Brasil precisa traçar uma estratégia que leve em consideração a nova realidade econômica e política global. A diversificação de parcerias comerciais será fundamental caso os EUA adotem um viés mais protecionista, exigindo que o Brasil intensifique suas relações com outros mercados, como União Europeia, China, Índia e Oriente Médio. Fortalecer o Mercosul e buscar novos acordos comerciais pode ser uma alternativa para reduzir a dependência dos Estados Unidos, embora ainda haja certa instabilidade na relação entre Javier Milei e as políticas do conglomerado de países que compõem o bloco de mercado comum. Além disso, é necessário proteger os setores estratégicos que podem ser impactados pelo protecionismo americano, como o agronegócio, a siderurgia e a indústria tecnológica, garantindo incentivos fiscais, inovação e fortalecimento da indústria nacional.

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Com a possibilidade de fuga de capital para os EUA, o Brasil deve criar um ambiente econômico atrativo para investidores, por meio de políticas fiscais estáveis, segurança jurídica e incentivos para setores estratégicos, como tecnologia e energia renovável. A diplomacia econômica ativa também será essencial, garantindo que o Brasil negocie diretamente com os EUA para preservar seus interesses e fortaleça sua presença em fóruns internacionais, minimizando impactos de decisões unilaterais americanas. Outra estratégia relevante será a inovação e sustentabilidade como diferenciais competitivos. Se os EUA reduzirem sua atuação em sustentabilidade, o Brasil pode se posicionar como um líder global em energia renovável e ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), atraindo investimentos de países e empresas que buscam negócios alinhados a compromissos ambientais.

O Projeto 2025 tem potencial para transformar o cenário econômico global, impactando diretamente as relações comerciais e financeiras do Brasil. Um maior protecionismo, desregulamentação financeira e alterações nas políticas ambientais americanas exigem que o Brasil esteja preparado para agir de forma estratégica. A diversificação de parcerias comerciais, a proteção a setores estratégicos e a adoção de políticas de atração de investimentos serão essenciais para garantir que o Brasil não sofra os impactos negativos dessa nova configuração geopolítica. Mais do que reagir, o país precisa antecipar cenários e se posicionar como um protagonista na economia global. A questão que fica é: estamos preparados para essa mudança?

Berlinque Cantelmo, sócio do RCA Advogados. Especialista em Ciências Criminais e Gestão de Pessoas, com ênfase nas competências do setor público. É bacharel em Direito pela Dom Helder Escola Superior e especialista em Gestão de Pessoas com ênfase em Liderança Organizacional pela UFBA (Universidade Federal da Bahia). Atualmente, é presidente da Comissão de Direito Militar da OAB/MG e secretário-geral da Comissão de Segurança Pública da OAB/MG. Também é especialista em Ciências Criminais pela FESMPMG (Fundação Escola Superior do Ministério Público).

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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